A aldeia global de Marshall MacLuhan custa chegar. Não há segurança para a afirmação que a tendência para o agrupamento das nações, prevista por alguns sábios, jamais acontecerá. Certo que verificamos, ao contrário da união dos povos, o esfacelamento das confederações.
A União Soviética se desintegrou como movimentos separatistas resultaram na formação de vários países do que foi um dia a Yugoslávia. No Brasil, apenas adormecido o desejo de alguns estados do sul de se desligarem da federação brasileira.
Napoleão Bonaparte sonhava com os Estados Unidos da Europa. De fato, temos a União Europeia e as organizações tipo OEA (Organização dos Estados Americanos) e a ONU (Organização das Nações Unidas), mas elas estão muito longe de serem uma confederação. Na história das Américas, a América Latina perdeu uma grande oportunidade de se compor em um grande país de uma grande nação. Pelo menos de se organizar no México, em um país na América Central e em um terceiro na América do Sul, vizinho ao Brasil.
Enquanto não evoluirmos para a composição de um governo mundial, considerando que somos todos habitantes de um único planeta ao redor do sol, as nossas conquistas de desenvolvimento continuarão sendo neutralizadas pelo imenso custo de manutenção de cada país voltado para dentro de si mesmo. Podemos considerar, como exemplo, o desenvolvimento e a diminuição das desigualdades que poderiam advir da eliminação das forças armadas dos países e a consequente extinção da indústria bélica.
Enquanto isso, cada povo busca o seu desenvolvimento. A China cresce formidavelmente. Alguns afirmam que ela já é um país desenvolvido. Não estaria mais em desenvolvimento. Usamos a terminologia dos conceitos. Já existe, inclusive, a expectativa que ela ultrapassará os Estados Unidos como potência econômica dentro de aproximadamente dez anos.
E a China quer a nossa amizade. O que pressupomos é que os chineses nos consideram, seja para assegurar um relacionamento ao sul dos Estados Unidos, seja para garantir o suprimento de produtos agrícolas, como soja e milho, essenciais para as necessidades de bem mais de um bilhão de habitantes. O capital chinês tem chegado ao Brasil e produtos chineses são importados.
Não seria exagero admitir que os chineses nos amam. Nada impede esse amor em termos de um relacionamento responsável onde só temos a ganhar. Não há percalços nem qualquer tipo de impedimento. Não temos poupança interna suficiente e precisamos do capital chinês. Nós nos referimos ao capital que chega, é remunerado e nos acrescenta expertise, parceria e experiência.
O capital parceiro de que precisamos pode ser americano, europeu ou chinês. Deng Hsiao Ping, o arquiteto herói da alavancada chinesa a partir dos anos setenta, uma vez vaticinou: “Não importa se o gato é preto ou branco, contanto que pegue rato”. Se um capital de parceria nos é oferecido, que mal em aceitá-lo? Evidente que não desejaríamos o capital da Máfia, por exemplo, ou o capital acumulado por algum tipo de espoliação de trabalhadores.
Podemos não concordar com o sistema político dos chineses, com alguns dos seus costumes ou com a sua religião. Mas por que hostilizá-los? Por que não aceitar uma amizade que nos é oferecida por um povo milenar afável, sábio e paciente? Os chineses já foram os bambambãs da Idade Média. Os seus inventos estão entre nós até hoje.
Que venham os chineses. O abraço com que os receberemos não desarma o abraço com que temos recebido outros parceiros. E vamos tratar de aprender o mandarim.
Francisco Nery Júnior
Parabéns ao site pela matéria e pela excelente ilustração.