Vamos falar do São João do Nordeste, festa monumental, onde a ingenuidade prevalece. Mesmo regada a licor, após doses pródigas de licor, ingênua. A ingenuidade do sertanejo do Nordeste nunca foi sinônimo de pecado. Muito menos atraso, para não dizermos burrice. Ao contrário, quem tem sobrevivido aos rigores [duros] do fenômeno da seca é pródigo e inteligente. Não é malicioso. Pele ressecada e dorso arqueado, de poucas palavras e desconfiado, mas não malicioso. Ele é sobretudo um forte, já sabemos.
O São João está às portas. Já não é mais uma festa religiosa. O leitor pode discordar, mas é fato: o São João é o sertanejo despojado do peso e do pejo do abandono e do descaso. Exaltamos a sua sobrevivência. Poderíamos estar a ressaltar o seu desenvolvimento. Da Bahia para cima, temos tudo que nos poderia fazer um grande país. Como não queremos pregar a secessão, vamos voltar para a festa.
Nela, as quadrilhas e o xaxado. O milho e a fogueira E as comidas excedem! Xaxado, baião, milho e canjica, talvez munguzá. E a tradição presente do cangaço que vai semanticamente se tornando sinônimo de reação e despertamento social ou educacional. É uma boa discussão que deixamos congelada na cabeça dos leitores. Lampião, “se era bom ou mau, mas ninguém até hoje afirmou”.
Ritmo, danças, músicas e arrasta-pés. Numa delas, numa das músicas, perceba o leitor a beleza da fração do poema com que encerramos nossa breve crônica: “Se eu soubesse que chorando empato a sua viagem, meus olhos eram dois rios que não lhe davam passagem”.
Nada mais a acrescentar.
Francisco Nery Júnior
P.S. Por causa da Covid, estamos impedidos de comemorar o São João com aglomeração. No próximo ano, se Deus assim o permitir, dançaremos com as nossas famílias e nos empanturraremos com as comidas tradicionais da festa e, com moderação, curtiremos as músicas. Capricho e prazer redobrados, a nossa vingança contra o vírus.