Homilia, pregação ou discurso, não me lembro. O fato é que o orador questionava a função do dedo mindinho do pé. Para que o dedo mindinho senão para aquela topada em uma esquina qualquer da casa, topada geradora de um expletivo, realce que os doutos preferem no lugar de palavrão? Assim provocado, ele sai quente aliviando a dor e a alma. Alivia tudo. Outras coisas que saem da boca contaminam mais (Cristo). O palavrão é a alma explodindo; não é pecado (professor Hélio Rocha).
Evidente que o dedo mais pequeno do nosso pé tem lá a sua função. Tem – como também a tem o apêndice. Enquanto uns afirmam apenas servir para uma inflamação inesperada que pode rapidamente conduzir à morte, o apêndice deve ter a sua função; só que desconhecida.
O nosso mínimo parceiro nos garante estabilidade. Corrobora a façanha de nos mantermos de pé verticalmente sobre dois pés. É uma façanha de equilíbrio. Nenhum vento à toa nos derruba. Os poderosos músculos do pé garantem a nossa estabilidade vertical devidamente assessorados pelo... dedo mindinho.
A máquina humana é complicadíssima. Complicada no sentido da perfeição. O projetista é de costas largas e mente fora do comum. Nós não somos simplesmente um cérebro acoplado em cima de um tubo digestivo. Somos muito mais. Com toda a infinidade dos nossos sistemas – e com o apêndice e o dedo mindinho.
Podemos viver sem ele. Sem o coração, não podemos. Mas sem o dedo mindinho, o andar fica a desejar. Fica manco, feio e difícil de apreciar.
E por que dele estamos a falar? Falamos e escrevemos cientes de alguma função social, cidadã ou comunitária mesmo aparentemente pequena como a do dedo mindinho.
Francisco Nery Júnior