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Professor Nery

O puxão de orelha da minha professora Aidil

Publicada em 21/07/21 às 01:38h - 1264 visualizações

Francisco Nery Júnior


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O puxão de orelha da minha professora Aidil
 (Foto: Imagem ilustrativa - da net)

Eu era o melhor aluno da classe, primeiro ou terceiro ano do primário, não sei. Hoje, não tem mais isso. O nivelamento é por baixo. Nos esportes, a busca da excelência importa. É o fim último do atleta. Competir, chegar ao topo, receber os louros da vitória e subir ao pódio. 


As agruras da formação são compensadas pela vitória. Não é à toa que todos os luminares das várias atividades humanas asseguram que só há vitória com luta. Desde lá, como ademais com os nossos leitores, a noção da luta para vencer os obstáculos da vida eram bem presentes na minha cabeça. Meu pai tinha vindo lá de trás e cuidava para isso. Se vim e venci – e sem insinuação de ser melhor do que ninguém – o seu Francisco Sênior é quem deve levar a boa parte dos louros. 


No Brasil, chegamos a um patamar de educação que não é desprezível. Se não melhor, menos ruim do que concluímos das marteladas dos opositores de qualquer governo de plantão. Olhando com cuidado, as verbas para a educação no Brasil são consideráveis. No bloco de alguns menos apaixonados, diríamos que são mal aplicadas. Ou poderíamos dizer que cumprem o seu papel não importando a possível falta de comprometimento do indivíduo, da família ou da comunidade.  


Então eu fui primeiro aluno de classe e os prêmios eu os guardo como tesouro. Poderia ter sido outro colega qualquer. Eu até os julgava melhores do que eu. Só não compreendia a [sua] falta de comprometimento com a escola. O esforço dos meus pais, meu pai a incentivar e a minha mãe a me preparar, o esforço do poder público para me dar a escola, a dedicação das minhas professoras, tudo reforçava em mim a noção, ou comprometimento, de esforço. 


Vale dizer que sempre encontrei na escola pública – que na época formava melhor que as particulares, exceção talvez dos colégios religiosos e militares – colegas de peso que muito contribuíram para a minha formação. 


Ainda a consideração que ser melhor aluno de classe não garante a conquista dos melhores postos na vida. Talvez lhe falte o decantado jogo de cintura, senão malandragem. A confiança que os resultados escolares lhe proporcionam paradoxalmente o impedem de desejar ser, vamos assim dizer, esperto. Seria mais ou menos como o boa pinta da paróquia que não precisa ir muito além do que chegar junto. O seu passaporte é a boa pinta, não necessitando se aprimorar no jogo da conquista. 


O nosso foco volta para o terceiro ano da minha professora Aidil. Ela era casada com um marido de classe média quando a classe média era constituída quase que exclusivamente de funcionários públicos graduados, negociantes e militares de patente. Tinha dois filhos e morava no mesmo bairro da escola como a maioria dos alunos. 


Eu estava a conversar com o colega ao lado. Apenas conversava. Não bagunçava nem desrespeitava ninguém. Palavrão na sala de aula, nem pensar. Virar-se para trás em plena aula, danificar o patrimônio escolar e desafiar a coordenação do professor e, pasmemos, a autoridade do diretor, nada disso acontecia, comigo ou com nenhum dos colegas de classe. 


A professora Aidil, vindo de trás da sala, escorregando pelo estreito corredor entre duas fileiras de carteiras, puxou a minha orelha. Deu-me um puxão de orelha. Até hoje não entendi a necessidade daquele puxão. Não entendi o puxão vindo da professora Aidil. 


Repetindo, não precisava. Nos idos da minha infância, não era corriqueiro desafiar o professor. Os casos raros, que podemos dizer justificáveis, eram tratados com a pedagogia de então – e assim resolvidos. 


Não, ela não era um monstro! Ela gostava de mim. Até me convidou para o aniversário de um dos seus filhos. Não creio que tenha sido um pedido de desculpas. Não foi. Não precisava ser. Eu também a considerava e amava. Como no filme Love Story, amar é nunca ter que pedir perdão. Se ela tivesse me pedido perdão, já estaria perdoada de antemão, tornando nulo o pedido. 


E o melhor que o cronista pode fazer é peremptoriamente afirmar que esta crônica não faz a apologia do puxão de orelha, o que justificaria um puxão de orelha aplicado pelo leitor. 


E eu sou grato aos vários puxões de orelha que levei na vida de pais, parentes e amigos que eu sempre soube que me amavam – e por isso puxavam a minha orelha. 


Francisco Nery Júnior




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1 comentário


Francisco Nery Júnior

21/07/2021 - 08:46:21

Chegada a hora de um tributo ao pedagogo Isaque do Centro de Treinamento da Chesf (CFPPA), falecido, que “leu todos os livros sobre pedagogia da biblioteca da UNEB Paulo Afonso”, no que ele tinha de mais saudável: 1) um dos colegas de que fala o terceiro parágrafo (no CFPPA) e 2) um seu comentário sobre o que diz o quarto parágrafo. Ele, se declarando o não boa pinta, comentou: “É o meu caso!”.n


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