E eu deitava no colo da minha mãe. Geralmente à noitinha, quando os filhos iam para a cama cedo, eu deitava. Olhava para a lua e contemplava o infinito. Conjecturava o que lá havia; que hoje sabemos não haver. Ah, maldito o filho que não tem mais o colo da mãe para se apoiar e contemplar o infinito. Aos que o têm, adoram chamá-los de nerd; que o são com prazer. Provavelmente são o sal da terra referido pelo Filho de Deus.
E a minha mãe contava histórias. As nuvens e a lua acima, e eu ouvia as suas histórias. Uma era a do homem dos quadros. O cabra era preguiçoso. Num assomo de ajuda, resolveu colaborar na colocação de quadros na parede. A mulher se animou. Ele não parecia o mesmo. Pediu-lhe o martelo; que ela trouxe. Depois os pregos. Também trouxe. E a escada. Calços, estopa, pano para limpeza, pediu tudo que ela trouxe; e acabou por explodir: “Deixe que eu faço!”. Explodiu e acabado ficou o sonho e a alegria da conversão [dele]. (Esta história era a preferida de ouvir do meu mestre de obras Genecy.)
E tem a velhinha do peniquinho. Ela morava em um peniquinho enferrujado na beira da estrada. Vivia da doação de quem passava. Um dia, passou a boa fada. “Que queres que eu te faça, boa velhinha?”, indagou. “Uma casinha, boa fada.” Plim, surgiu a casa desejada. Não mais o peniquinho; nem chuva, nem goteiras.
A cada ano passava a fada. “Tudo bem, minha velhinha?” - “Não, falta-me uma varanda”. Plim, a vara de condão funcionou e apareceu a varanda. Próximo ano, novamente a saudação: “Falta-lhe alguma coisa?” - “Sim, faltam mais dois quartos.” E os quartos apareceram.
Depois veio a TV a cabo e a piscina. Velha alegre e satisfeita, assim pensa o leitor, passou a fada. “Feliz e satisfeita, boa velhinha?”, como sempre indagou a fada. “Não, realmente...”, e então cortou a fada: “A senhora nunca está satisfeita. Sobram-lhe os meus favores que nunca lhe satisfazem. Creio ter perdido o meu tempo com a senhora. Assim sendo, vai voltar a morar em um peniquinho de beira de estrada.” Plim, e a velhinha, resignada e arrependida, não cansava de contar a sua história para os que passavam. (Esta história era a preferida de Nilma, a minha secretária, que dela se aproveitava para ninar Lucas, seu filho, na hora de dormir.)