Assistindo às audiências da Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga a gestão da pandemia da Covid-19 no Brasil, aprendendo com senadores e depoentes – com eles não se aprende só malandragens –, me lembrei do “Eu não fiz nada, eu não fiz nada”, citado pelo professor baiano Hélio Rocha em conferência, esta proveitosa, para o corpo docente do sistema Chesf de ensino no ano de 1975.
É o caso dos malandros, mentirosos, oportunistas e corruptos que, pegados com a boca na botija, mansos como cordeiros, como lobos em pele de cordeiro, repetem sempre a ladainha do eu não fiz nada, às vezes com um mea culpa incontornável de canto de boca. (Tonho, ajudante de pedreiro dos bons, adorava citar o nosso professor, quando assim provocava a oportunidade, no dia a dia das nossas obras.)
Na época da epidemia da Vaca Louca, bastante contagiosa, que dizimou rebanhos principalmente na Austrália, surgiu a historieta do caçador que, de repente, contemplou a caça. Grande e forte, na sua frente o canguru desejado (não sabemos lá pra quê). Acuado e com a morte certa prestes a acontecer, tiro certo do caçador, saltou-lhe à mente a exclamação salvadora: “Eu sou louco!”. Carabina abaixada, rabo entre as pernas, correndo da contaminação que poderia lhe passar a presa contaminada, dita contaminada, fugiu o caçador. O sábio canguru desta vez escapou. (Esta história era sempre lembrada nas nossas conversas na obra por Roberto, pedreiro competente e leal.)
E uma terceira amplia o número para três histórias. Ariano Suassuna, filho do então governador da Paraíba, João Urbano Pessoa de Vasconcelos Suassuna, nasceu no palácio. Já adulto, convidado para uma solenidade oficial - e ele nunca usava gravata -, foi barrado na entrada do palácio do governo por estar sem a dita gravata; paletó e gravata. “Interessante”, argumentou com o chefe do cerimonial, “na primeira vez, eu entrei no palácio nu e ninguém me impediu!”
Francisco Nery Júnior