Tão esperada e bonitinha (não tem o peso lógico de durabilidade de um Belvedere da Chesf que permanece incólume por mais de sessenta anos) que foi “invadida” antes da inauguração oficial pelas crianças doidas para tirarem proveito de serem crianças. Nós outros teríamos feito o mesmo. E a pracinha anterior de Cesário que, quem sabe, poderia ter permanecido embutida no novo projeto. A criatividade de custo ínfimo de Cesário, funcionário municipal de saudosa memória, encantou a todos nós no seu devido tempo. A nossa esperança é que as peças tenham sido preservadas para montagem em outro local, de preferência onde os amigos de Cesário possam observar e contemplar sua genialidade simples – e passível de imitação.
Temos praças! Que devemos ter. Lazer e contemplação para todos. Competência dos nossos arquitetos que nos proporciona inveja no que ela tem de mais puro e construtivo. A inveja santa está reservada para os que almejam o desenvolvimento. Sem esse tipo de desejo, não vamos para a frente; não saímos do papel.
Como não sai do papel a ciclovia de Paulo Afonso. Nós queremos nos referir a um sistema lógico e compreensível de ciclovias que vai beneficiar, primordialmente, milhares de trabalhadores pobres, proletários ativos que nos servem a todos nós com os seus serviços de construção e manutenção. Eles são pobres! Talvez por isso, sem voz e sem representação, não tenham ainda a sua ciclovia. Se demagogia, como demagogos afirmamos que bradamos por uma multidão de esquecidos que só podem dispor de uma bicicleta, na maioria das vezes velha e enferrujada, para se locomover. O que conseguem amealhar com o suor do rosto, apenas suficiente para a sobrevivência num Brasil incompreensivelmente desigual.
Na França de primeiro mundo, onde o sistema viário é quase perfeito, ciclovias a perder a conta. E os franceses curtem a bike de corpo e alma. Seria o caso de imitá-los nós outros cientes do conceito de igualdade. O jornalista Greyonne de Montjou nos atualiza e apresenta o testemunho de empresários franceses encantados – e convencidos – da praticidade, oportunidade e do encanto de curtir a bicicleta em um francês alto e encantador que nos deu trabalho parta traduzir.
“Paixão popular por excelência, a bicicleta se tornou a coqueluche de grandes empresários – e não somente porque ela é ecológica. Descrição de uma tendência discreta na paisagem da França.”
“[Os empresários] eles têm a bicicleta na cabeça e nas pernas”, prossegue o jornalista do Le Monde. “A gente não pensa em nada quando está pedalando. É um esporte pungente, repetitivo, que não faz ruído. Muito agradável pelo seu lado frugal, ademais”, analisa o escritor Aurélien Bellanger que aproveita não importa qualquer pretexto para empurrar sua bicicleta esportiva trem adentro na França. “É um aparelho de projeção ótica, um troço mágico, um vetor de encantamento geográfico.” “A magia desse veículo, que os franceses aprovam, tem a ver com o silêncio que acompanha a descoberta de locais de beleza de tirar o fôlego.” “[Isso] se assemelha um pouco ao passeio nas montanhas: não há qualquer tipo de barulho salvo o ruído da câmara de ar e da Natureza em volta”, descreve Antoine Gosset-Grainville, ex-diretor adjunto do escritório de François Fillon, advogado de negócios e próximo presidente do conselho de administração da Axa, que pratica esse esporte na Holanda há seis anos. “Como na caminhada, carece ser organizado e metódico, partindo com todas as precauções recomendáveis”.
Introdução e tradução de Francisco Nery Júnior
P.S. E um sistema de financiamento de bicicletas gerido por alguma financiadora privada, com juros não escorchantes, se possível com algum subsídio. As pesquisas nacionais comprovam que os pobres pagam os financiamentos; o que também atestam os lojistas e empresários outros de Paulo Afonso.