Era um domingo e faltaram alguns ingredientes para o pedreiro bom que esfalfava-se a trabalhar por uns trocados dignos a mais. Carece trabalhar, contribuir para a rolagem da roda da economia e pagar impostos. Impossibilitado de ir à igreja (o dia, o dia era o Dia do Senhor), em virtual prisão domiciliar imposta pela Covid-19, eu, por minha vez, fazia o papel de ajudante. Os ingredientes eram fundamentais para a continuidade da obra.
Com todo o empenho de contrição, que também me parece uma maneira de guardar o sábado bíblico, fui à Feirinha. Trata-se da feirinha no coração da Vila Poti, o Agora dos pauloafonsinos renitentemente comprometidos em manter a tradição do sertanejo forte, honrado e visceralmente ligado à sua terra. A feirinha me encantou, a mim que, por comodidade da proximidade, costumo comparecer à “feirona”.
Vi o Nordeste cantado e reverenciado pelos escritores brasileiros da boa pena. A turma vibrava e se alegrava uns aos outros na mais pura e inocente fraternidade. A comunicação era perfeita. A descontração, melhor ainda. E o escambo se multiplicava no pulguedo sem fim.
A família pauloafonsina se inter-relacionava numa necessidade tocante de socialização. Crianças se grudavam aos pais, velhos compadres se cumprimentavam e antigos companheiros repartiam as lembranças de experiências passadas. Alguns reclamavam da carestia, enquanto outros tantos preferiam não estragar o momento de felicidade, cheio de calor, proporcionado pelo evento da feira.
E lá íamos todos na pressa e no afã de fazer a feira. O sol começava a esquentar e carecia comprar, a emoção dos encontros parcialmente realizada. Na confusão, quase metade do meu calcanhar direito ficava para trás. Um senhor se esforçava para seguir em frente com o seu carro de feira, daqueles grandes e bem elaborados, ferramenta única disponível para conseguir alguns trocados para o feijão com arroz. Pediu desculpa, resignadamente concedida. Que outra reação poderia esboçar? Ainda bem que eu estava bem seguro de por ali não ser estraga-prazer de ninguém.
Com os ingredientes no bisaco, pronto para voltar, no limite de saída da feira, uma senhora, sentada em um caixote de madeira, pano branco tradicional a proteger a cabeça do sol que começava a se impor, oferecia alguns mamões a um real cada mamão. Também passei adiante, apoiado na desculpa de estar de moto. Alguns passos mais, fiz uma conversão e, desta vez, parei em frente à nossa personagem. Ainda brinquei que o preço estava baixo provocando a resposta: “Mas fazer o quê?”
Se interessar ao leitor, comprei o mamão. Sim, comprei. Está muito bem guardado para um consumo bem oportuno com todo o deleite digno da minha visita à Feirinha de Paulo Afonso, pérola do vigor e da tradição da nossa cidade.
Francisco Nery JúniorMaravilha!Passei minha infância e adolescência residindo na Rua CASTO ALVES .Foram meus melhores momentos. Até casar e ter filho . Hoje mesmo.morando fora , sempre que volto a passeio , obrigatoriamente faço questão de comprar a melhor tapioca , caminhar entre as bancas de frutas , verduras ....
Parabéns, professor Nery, que descrição maravilhosa da nossa feirinha e do nosso momento que suscita aproximação e calor humano. Porém, ainda somos sondados pelo vírus do covid.Todo cuidado é pouco. E a feirinha continua magnífica, e em sua lavra recebe adornos régios.