Ele é pai de Rafael e mais dois rebentos, Rafael de graduação de um ano nos Estados Unidos e conferencista para meus alunos do Cetepi, antigo Ciepa, de onde foi aluno. Francisco Alves reserva moral e intelectual de Paulo Afonso, leitor assíduo confesso desta coluna, Francisco que eu, gestor, não dispensaria como parte da minha equipe. Mas os critérios para a seleção de assessores e membros de equipes estão milhas aquém da competência, comprometimento e caráter.
Acordei de manhã e me lembrei de Chico com quem trabalhei no IFBA e com quem troquei papos construtivos em manhãs memoráveis de conversa e debates. O que devo mesmo dizer é que aprendi um bocado com ele. Tínhamos papos sinceros e às vezes ásperos. Quem se respeita não se preocupa com aspereza. Ignorância e rudeza são outra conversa.
Então me lembrei de um grande amigo. Melhor dizendo, fui conduzido a me lembrar. Fui coagido mesmo. Eu tinha saído para o quintal da minha casa. Estava recolhendo a água de um poço, ou algo parecido, que inventei por lá. Ah, amigo leitor, há que se aproveitar todo o líquido que, abundante nos arredores, entra em nossa casa a preço de ouro! A água que corre dos nossos banhos, carregando todos os nossos segredos e idiossincrasias, mais a água da pia da cozinha que nos alimenta, esta [é] a água que poçamos (vai o neologismo) no quintal. Se assim não fizesse, não procedesse ou não parafusasse, trabalharia todo o mês apenas para pagar a água da EMBASA.
O governo da Bahia vai bem. O governador Rui Costa merece o nosso respeito. Compõe, arma a equipe e administra para o nosso louvor. Controla magistralmente o orçamento que, em boa parte, imaginamos e concluímos, é – deve ser - alimentado pelas contas de água que pagamos à Embasa.
Água tratada é saúde e desenvolvimento. Assim entendemos. Não entendemos, porém, que uma grande parte do nosso salário tenha que ser destinada para o pagamento da água que consumimos na nossa casa. Consumimos. Não estragamos nem desperdiçamos. A coisa não era assim. Assim nunca funcionou e algo deve estar contaminado ou errado.
E Francisco me deixou uma frase lapidar ao confessar, cinco ou seis anos atrás, que pagava R$200,00 (duzentos reais) de água todo mês: “Mas eu não vou deixar minhas plantinhas morrerem de sede”.
O mesmo digo eu.
Francisco Nery Júnior
E a inspiração secular de Francisco de Assis... Se devoção a uma causa é separação e santidade, São Francisco de Assis. E a consideração ao atual papa, Francisco, nosso xará, que desejamos I (primeiro); que admiramos a sua preocupação prudente e comedida de abolir sinais de pompa, poder e grandeza que, queremos crer, inspirados em Cristo.
Sem querer abusar dos trocadilhos, mas não deixa de ser interessante ver um Francisco apaixonado por árvores e verde, elogiando outro Francisco por seus cuidados com as plantinhas e, para isso usando pagando caro pela água que vem de outro Francisco, o rio. E viva a Primavera, o verde, a vida!
E testemunhei Francisco ajudar e assessorar muita, muita gente que até agora não se manifestou por questão de humildade e reserva, quero crer.
Prezado amigo Prof. Francisco Nery. Este ser humano de alma excelsa. Eu sou suspeito de tecer qualquer que seja um texto a seu respeito, vou ser conduzido sempre pelo viés de qualificar a sua benevolência. Sobretudo agora com os sentimentos afetados pela Sindemia Covid-19 que nos deixou afastados da possibilidade de uma boa “prosa”.Então, é difícil fazer um juízo equilibrado, ético e sustentável sobre o uso da água em nossas casas. A postura de todo ambientalista é a conservação deste recurso, o qual, nesta perspectiva do amigo Professor é confrontado pelo amor às plantas e árvores, por conseguinte, inevitavelmente, estaria disposto a pagar o preço. Por isso, muito já fiz no sentido das águas residuárias serem tratadas e utilizadas na irrigação. Mas eu fico aqui matutando numa dúvida cruel: De qual “Francisco” o seu artigo se refere? Sinceramente, eu imagino o Professor Francisco Nery escrevendo diante do espelho...Grande abraço!