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Professor Nery

Trabalho e descontração na França

Publicada em 28/09/21 às 14:37h - 613 visualizações

Francisco Nery Júnior


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Trabalho e descontração na França
 (Foto: Acervo de Francisco Nery)

Eu já tinha estado em Paris três ou quatro anos antes por três dias. Realizei o sonho nascido quando lia as descrições de Winston Churchill sobre a Segunda Guerra Mundial. Fiquei em pé, ao lado do Arco do Triunfo, bem no local onde Adolf Hitler ficou quando imaginou a França subjugada para sempre, ou por um longo tempo. A minha satisfação não foi motivada pelo sucesso de Hitler na sua guerra relâmpago. A minha satisfação era estar, onde antes esteve o ditador alemão, estar eu agora na França libertada. 


A epopeia de resistência dos franceses foi notável. Conseguiu apagar alguns episódios de colaboracionismo. O aniquilamento do regime nazista que pisou a França e quase toda a Europa por seis anos também aniquilou qualquer sentimento de mágoa ou ressentimento nos franceses sobreviventes. 


A França ainda exulta com o sentimento de liberdade. Ainda pagaria o preço que seus heróis do século passado pagaram. Ainda preferiria a morte ao jugo da ditadura elitista. E a França se orgulha de ser a porta-bandeira da grande maioria dos amantes da liberdade de todo o mundo, inclusive o Brasil. Os franceses sabem que somos iguais. Sabem que faríamos o mesmo que fizeram. Nós nos sacrificaríamos por um ideal maior e mais digno se assim de igual modo fôssemos provocados. 


Intrigante que temos, no Brasil, a tendência a nos esquecer das inúmeras ocasiões em que os brasileiros tiveram a oportunidade de mostrar coragem e amor à pátria com a entrega da própria vida – que só vale a pena em liberdade. 


A mágoa e o ressentimento ficaram para trás na memória dos franceses. Quando provocados, ou quando verificam que o estrangeiro está em dificuldade, logo se apressam a ajudar. Conversam e nos respondem quando provocados. São, de certa forma, reservados, ao contrário dos italianos, mas nunca grosseiros ou petulantes. 


A minha experiência aconteceu em Toulouse, onde estudei por mais de um mês. Estudo na França é levado a sério. Estudante na França faz jus à definição segundo a qual estudante é aquele que estuda. Os estudantes são conduzidos à noção que o sucesso e a vitória só são conquistados com esforço. As aulas acontecem em ambiente de silêncio e respeito aos professores. Os alunos têm que resolver as tarefas de casa e são estimulados a realizar leituras complementares. Durante a semana, o estudante francês estuda! 


Por sua vez, a descontração e o relaxamento acontecem no fim de semana. Poderíamos dizer que os franceses os consideram sagrados. Há que se recarregar as baterias para a semana entrante. Prova da dedicação dos franceses às atividades do fim de semana é que, no início da primeira aula da segunda-feira, o aluno é solicitado a descrever para os colegas o que fez no sábado ou no domingo. 


E nós, como recomenda a prudência na casa dos outros, trabalhávamos (estudávamos) duro durante a semana e relaxávamos nos finais de semana como pode ser verificado nas fotos que ilustram esta matéria. 

Ângela e Nery, em Toulouse - França


No espírito do texto - ou na falta dele -, encerramos com o poema Filosofia de Ascenso Ferreira, poeta nordestino modernista, no livro Cana Caiana de 1939: 

Hora de comer – comer! 

Hora de dormir – dormir! 

Hora de vadiar – vadiar! 

Hora de trabalhar? 

- Pernas pro ar que ninguém é de ferro! 

 

Francisco Nery Júnior   

 




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