Trata-se de Melo, sindicalista de primeira hora, daqueles que acreditam no que pregam e no que fazem e, por isso, merecem o nosso respeito. Melo que, junto com Cabral, Afrânio, Carlos, Raimundinho um pouco mais distante, Paulo Rangel na Assembleia Legislativa e a doutora Patrícia no Setor Jurídico; eles nos deram o apoio que, vamos cochichar aqui pra nós, foi surpreendente. Para seu governo [deles], muito mais efetivo do que esperávamos; do que eu esperava. Com o apoio de Moreira, Lourdes e Rivaldo, o grupo chegou a porto firme, muito mais firme do que previsto. Viagem cheia de peripécias e soluções às vezes incompreensíveis. Mas o navio aportou. Com proa, popa, leme, hélice, mastro e tudo, aportou livre de alguns lastros pesados que só assim deles poderíamos nos livrar.
E a viagem nos empurrou para a frente. Nas procelas e nos embates, compensações muito maiores do que se, no porto, tivéssemos mofado de um bolor intolerável. No porto não ficamos. Não fiquei eu. Não quis ficar. Enfrentei o poderoso de então e assumi minha posição. Por que voltar atrás se dezenas de colegas não voltaram? Voltando, o risco de hoje estar no cemitério ou, pior, na cadeia.
Melo não está mais no sindicato. Reassumiu sua função na Guarda da Chesf. E eu fiz questão de visitar o amigo Melo de volta à sua função. Eu tinha que ir lá. Era, me parecia, imperioso. Melo de farda e tudo, fui e lhe bati continência. E as coisas boas da Chesf e dos velhos companheiros me voltaram à mente. Isto ninguém consegue estragar. Muito menos apagar.
O velho Melo ainda no sindicato e eu passava pela frente e contemplava, na calçada, três mudas de árvores nativas do Brasil. Jurema, outra, e pau-brasil. Como sempre sorrateiramente – carece não fazer inimigos! -, umas três ou quatro vezes, passei e dispensei alguma carga de adubo às árvores que agora sei plantadas por Melo. Isto, leitor, o sindicalista ferrenho, não sei se necessariamente xiita, maduro, acostumado aos embates judiciais em favor dos companheiros, teve a sensibilidade e a responsabilidade de plantar três árvores na calçada do seu sindicato.
Os ipês da região estão floridos. Pintam a cidade de um amarelo mais amarelo que o ouro do Brasil. É um encanto. Segundo voz corrente, satisfação declarada do atual gestor municipal. Comentários e loas são destinados aos nossos ipês, caraibeiras no jargão do Nordeste. E nós engrossamos o coral da louvação.
Um detalhe, porém, se sobressai. Os garridos ipês, tanto mais garridos quanto mais antigos, foram, quase na sua totalidade, plantados na época e sob a inspiração do doutor Amaury Menezes. Não se plantam mais ipês, sinal paradoxal de uma dedicação e de um reconhecimento à beleza dos ipês cantada e idolatrada.
Como nem tudo está perdido, porém, a atitude de Melo certamente dará ensejo ao plantio de dezenas de ipês outros que tornarão Paulo Afonso ainda mais dourado – e feliz!
Francisco Nery Júnior