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Professor Nery

Dois de novembro, vivam os nossos mortos!

Publicada em 31/10/21 às 12:41h - 717 visualizações

Francisco Nery Júnior


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Dois de novembro, vivam os nossos mortos!
 (Foto: Arq. do jornal Folha Sertaneja)

Vivam mais uma vez. Viveram a vida e vivos estão nas nossas memórias. Muitos nos nossos corações. Viveram um sonhar que é morto. O poeta ficou por aqui. Aliás, por ali no cemitério onde amigos, parentes, colegas e companheiros, até os anônimos, dormem o sono dos séculos. [Ainda] vivos, dormimos com eles. Assim queremos e assim dormimos. 


A cena é o nosso cemitério, lugar dos que dormem. Não necrotério dos mortos. Mortos são os improdutivos. Andam, vagam e perambulam talvez na espera da morte redenção. Aqueles mortos a quem nos referimos já estão redimidos. 


Quatro dias antes do 2 de novembro, fomos ao cemitério. Carece levar a sogra para a inspeção anual ao túmulo do marido. Ele, e a poucos passos da sua sepultura, descansam os pais; os pais dele. 


Tudo em ordem, saudades matadas, missão cumprida, danamos a andar pelas vielas bem mantidas do nosso cemitério. Vielas e alamedas varridas, placas estabelecidas, marcadores tinindo de branco cor de cal, os mantenedores do nosso cemitério se esmeravam nos retoques finais. Eles piamente cuidam dos nossos mortos. Esbanjam comprometimento no cumprimento do dever. Ganham pouco (cerca de 52% dos empregados brasileiros ganham de dois salários mínimos para baixo), mas cumprem o dever. Trabalham, se cansam, vão para casa e dormem agora o sono dos míseros mortais. Temos que dizer que os respeitamos profundamente. 


E fomos rodando, contemplando placidamente, como nos convidava a placidez do local, e paradoxalmente tristes fomos descobrindo - e às vezes nos surpreendendo - os túmulos daqueles que nos deixaram em saudade. Embora vivos na nossa mente, em saudade. 


A vontade, agora bem perto deles, era lhes dizer o quanto os consideramos. Agradecer os seus atos de grandeza e a sua postura de amigos. Dizer-lhes, como dizia a minha mãe, que os bons são os que partem. Também somos bons, mas sujeitos à corruptibilidade dos homens. Gostaríamos mesmo de confessar que até invejamos a sua libertação. O mundo já não tem poder sobre eles. Alçaram voo e partiram para o infinito. 


A dificuldade agora, leitor, é encerrar a nossa crônica. Como fechar? O que dizer ou acrescentar? Resta o acordo para que o leitor o faça, libertando o cronista do perigo de destoar no final. 


Francisco Nery Júnior 

 




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1 comentário


Denilson Souza

31/10/2021 - 13:20:21

Excelente reflexão! 👏👏👏


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