Os membros da Academia de Letras de Paulo Afonso se reuniram em encontro de confraternização de fim de ano. Regados a bife macio e filé de tilápia, rédeas soltas para as emoções (somos uma confraria; de frater, irmão em latim), ficamos à vontade.
Houve um amigo secreto, amigo literário mais precisamente. Junto com um brinde de Natal, a acadêmica Socorro Mendonça, a minha amiga agora revelada, me dedicou o seu livro de receitas culinárias. Ficou a obrigação de nós, Ângela e eu, tentarmos uma delas e mandar uma porção para a autora da receita aprovar ou, pior, condenar, o que parece mais provável.
Na sequência, estabeleci o compromisso de mandar para Socorro e seu fiel escudeiro, o marido constante de 52 anos, infalivelmente concorde, o que explica os 52 anos – a afirmação é dele -, uma porção de vatapá que arrisco fazer de quando em vez, pelo que observava a minha mãe nesse mister. A qualidade dependerá da escolha de um camarão defumado de qualidade comprado na Feira de São Joaquim em Salvador.
A Aníbal, o amigo secreto tirado por mim, um brinde fora da convenção. O objetivo foi dar uma folga a Aníbal e fazê-lo se refestelar com algumas guloseimas do Natal, se é que ele não vai repassar para os netinhos, excesso de zelo, talvez, dos nossos avós corujas do Nordeste do Brasil.
Oportuna – e fundamental – a lembrança da colega Jovelina: estávamos no espírito do Natal de Jesus o Redentor, o Messias prometido. Papai Noel, renas e neve ajudam a compor o ambiente sensível do Natal, embora, poderiam observar os puristas nacionalistas, poderiam ser substituídos, aqui no Nordeste, por Padre Cícero, por exemplo, paisagens da caatinga [seca], bodes e cabras. Ainda vale a observação de a tradição portuguesa para o Natal ser o presépio.
Poesias, citações e figuras de linguagem abundaram do verbo abundar; cantos e reminiscências aconteceram, carece relevar. Anátemas os discursos vazios, enrolação, hipocrisia e cata de votos – ou simpatia. [Isso] ficou do lado de fora da cerca.
O ambiente era convidativo cercado pelas árvores decenárias do doutor Amaury Menezes e de Manoel José. A ornamentação, tênue como impõe o tempo da pandemia. Poucas luzinhas vermelhas que poderiam estar espalhadas pela cidade aos montes em espírito do Natal que nos conduz ao Salvador e que nos fazem, as pequenas lâmpadas, esquecer as nossas mazelas e imperfeições e nos tornam mais humanos e fraternais.
Por fim, um testemunho da importância da ALPA: sentado um pouco além, em uma mesa única, um casal a nos observar. Temos aprendido que a saudação em restaurantes deve ser discreta e distante. Por questões sanitárias, nada de aperto de mão em quem está comendo e nada de falar por cima de pratos e travessas. Mas o marido procurava a minha atenção. Era o médico com quem eu costumava fazer o teste de esteira, parte dos exames periódicos no meu tempo de Chesf.
As nossas demonstrações culturais tinham despertado a sua atenção. Respondi-lhe que se tratava da Academia de Letras de Paulo Afonso. Resta a expectativa da sua candidatura à próxima vaga aberta na academia. O meu voto está declarado.
Francisco Nery Júnior
Gostei do "abraço oceanado" de Socorro - uma das Marias - Mendonça. Observação de Nery, um dos Josés.
Imortal e querido NERY, ainda não acordei do nosso sonho , confraternizar um NATAL da ALPA! Obrigada por registrar lindamente os nossos momentos. Foram expressados os sonhos contidos das MARIAS. Se bem que teve presença de muitos JOSES. Um abraço oceanado 4