Ele já foi citado nesta coluna algumas vezes. Claro, muito do que aprendi foi com ele. Só o vi pessoalmente uma única vez, da janela do casarão da minha faculdade, a mesma citada pelo professor Roberto Ricardo que, acredito, sugou o que pôde de quem tinha a História e a Geografia na cabeça.
Ele sabia de trás pra frente a história da Bahia, principalmente a história de Salvador. Foi meu professor! Com orgulho e agradecimento, foi meu professor. Acabado o almoço, eu me sentava na cadeira, pra mim carteira, na sala anexa à cozinha da casa dos meus pais, minha sala de aula, para a aula de história proferida todos os dias pelo professor Cid Teixeira em uma das rádios de Salvador.
Era uma aula que começava pontualmente à uma hora da tarde. Barriga cheia, hora de encher a cabeça. Comigo, uma multidão de discípulos do mestre, milagre de audiência que muitos tinham duvidado. Sucesso garantido, sem efes e erres, em uma didática despojada de artifícios desnecessários, o desabafo e o agradecimento do professor no microfone. Deve ter pensado em relação aos negativistas sempre presentes e ativos na vida de quem quer produzir: “Funcionou, viu?!”
Ele respondia questões. Tirava dúvidas. Esclarecia episódios. Podava exageros históricos. Louvava a Bahia, berço da História do Brasil. Amava a Salvador provinciana. Lamentava equívocos como algumas demolições desnecessárias e intempestivas. Colocava os pontos nos “is”.
Voz de barítono, ou baixo profundo, encantava os seus alunos pelas colocações precisas e irrefutáveis. Nunca, nunca mesmo, deixou umas das perguntas enviadas ao programa sem resposta. Era um Google irreprochável.
Morreu a morte dos justos dormindo em repouso merecido aos 97 anos de idade. E deixou uma lacuna difícil de ser preenchida na cultura da Bahia.
O pessoal fica se repetindo, inclusive passando conceitos errados: "Os doze discípulos eram um bando de ignorantes, Deus não chama os preparados, prepara os escolhidos [conversa de malandro], crente [cristão] não tem inimigos", etc. Um dos mitos derrubados pelo professor Cid Teixeira era que o Dique do Tororó, em Salvador, foi escavado pelos holandeses em 1624. "Os holandeses, ocupados com a segurança da nova conquista, não teriam tempo, em um ano, para cavar o Dique do Tororó com pás e picaretas".
Conheci pessoalmente o Professor Cid Teixeira através do seu filho o Engenheiro Afonso Teixeira, o qual trabalhou comigo na Prefeitura de Salvador, quando fui Subsecretário de Planejamento. Tive o prazer e a honra de participar, durante cerca de dois anos, da elaboração do livro "História da Energia Elétrica na Bahia" a convite do Professor Cid Teixeira. Na Cidade de Barra (BA) enquanto ele realizou uma palestra sobre a História da Cidade eu apresentei a História da Chesf e do Rio São Francisco. O conhecimento e a didática dele era impressionante. Infelizmente, a Imprensa Baiana fez uma cobertura da sua morte muito aquém da grande obra do Historiador e Professor Cid Teixeira.
Do Professor Roberto Ricardo:Meus irmãos e companheiros da ALPA!É verdade!Transitei pelos corredores da Católica, entre os anos 65 e 69 e por vezes, nos corredores do Instituto de Geo-Ciências. Ele, como muitos professores antigos, eram gentilmente reconhecidos. Contudo, como dizem muitos: Há o tempo da chegada e o da partida. Em vida foi sempre, um belo cidadão e professor instruído. Lá em cima, no Oriente Eterno, sem dúvida há ser uma eterna lembrança, aos seus ex alunos, enquanto existirem e depois para todos os estudantes e pesquisadores, através da sua vasta obra historiográfica!Saudades!Rob Rick, o pró.Salvador, 21.12.2021, ás 23:23hs.
Sobre a morte do Professor/Historiador CID TEIXEIRA, comentou o Professor Fernando no grupo da ALPA:Tive a honra de conhece-lo em Salvador/BA. Era membro titular do Instituto Histórico da Bahia e Academia de Letras da Bahia. Ao lado da historiadora Consuelo Pondé, legaram um acervo memorial inestimável.A Bahia perde e fica órfã dessa autoridade da área historiográfica. O Professor Roberto Ricardo que o diga!