A turma da comunicação é competente. Nesse afã, se esmeram, arriscam a vida e nos enchem a cabeça dos detalhes os mais pequenos. E vêm as pragas, pandemias, enchentes e violência. Canal após canal, emissora depois de emissora, pragas e sofrimento, principalmente dos mais pobres.
Interessante o ânimo com que anunciam as “más novas”, oposto de boas novas. Peito inchado, tom de voz ensaiado, como são treinados nas suas faculdades de comunicação, parecem arautos das boas novidades. Assim tocam os clarins das desgraças nacionais.
Interessante que há avanços – que poderiam ser abordados; comunicados ou exaltados. A turma terceirizada da Prefeitura limpava a minha rua nos dias de Natal. Lanchando juntos, comentávamos algumas platitudes (não carecia discutir teorias mirabolantes). Embaixo da catingueira nobre e exuberante, as motos estacionadas. Motos deles! Não eram do senhor prefeito; muito menos de Jair Bolsonaro. As motocicletas eram deles. Não mais jumentos agora exportados para a China e para o Vietnam.
As enchentes no sul da Bahia expuseram computadores, geladeiras, fogões e máquinas de lavar que até bem pouco tempo eram privilégio dos ricos. Em Salvador, trancados em um engarrafamento, o taxista lamentava que “agora todo mundo tem carro”. “Não é melhor assim?”, foi o que pude responder.
E os avanços poderiam ser mais profundos nas relações sociais. O amor seria a liga, a cola, a massa de adesão entre os homens, criaturas eminentemente sociais. Ninguém é feliz sozinho, já foi dito. Com exceção de alguns ermitões contados, ninguém se isola no Raso da Catarina. Há a necessidade do calor do amor; dar-se a si mesmo e receber o carinho merecido indispensável para a saúde mental.
Do filme Love Story, “amar é nunca ter que pedir perdão”. Você escorregou, leitor, no cumprimento da cartilha do relacionamento, você já está perdoado por quem o ama, assim dispensando, embora nobre, a necessidade de pedir perdão.
Almoçava com um executivo americano que a Chesf me pediu para assessorar e traduzir. O fato de ele estar casado com a mesma mulher há mais de vinte anos me chamou a atenção. A moda dos relacionamentos curtos ainda não tinha chegado ao Brasil. Curioso, quis saber a fórmula para o sucesso do seu relacionamento matrimonial. “Para o casamento dar certo”, começou a me responder, “cada um dos cônjuges tem que dar...”. Na minha intempestividade de jovem tradutor, eu o interrompi e acrescentei que cada um teria que dar 50% e receber os mesmos 50%. E foi a vez de ele me interromper para afirmar: “Para o sucesso e a duração de um relacionamento [sadio], é necessário que cada um dos parceiros dê 90% e espere receber apenas 10%”.
A prática do amor – dar no sentido bíblico – é, poderíamos dizer, uma questão de sabedoria e esperteza. O retorno é líquido e certo.