A gente vai ficando velho e a memória vai ficando mais para trás. Vemos “o quanto a existência é rápida e falaz”. “Os desenganos vão conosco à frente e as esperanças vão ficando atrás”.
Substituímos desenganos por lembranças. Sem elas, acaba a vida. A vida acaba quando acabam os sonhos, já foi dito, grafado e repetido.
Ah, as lembranças do armazém do português, os bolachões até hoje os melhores do mundo, a rapadura com coco, a padaria do espanhol, o último bondinho do Rio Vermelho e o abafa-banca (picolé caseiro) na porta da vizinha.
Saudade das bocas de lobo! Elas – não se inventou nada melhor – captavam as águas pluviais, pluviais águas da chuva, e lhes davam a direção e o destino corretos. Eu observava as novas avenidas rasgadas nos vales de Salvador a partir da segunda revolução viária em 1966. A engenharia inventava todo tipo de captação daquelas águas. Nada funcionava. Só as bocas de lobo tradicionais. A boca de lobo se enquadra na rubrica “ainda não se inventou nada melhor”.
A tempestade vem, reclama o seu lugar e a sua participação, e a cidade, incompreensivelmente sem bocas de lobo, nem outro tipo qualquer de boca nas ruas de Paulo Afonso, sofre as consequências – deletérias, que significa destruidoras.
Foi a minha surpresa ao pisar pela primeira vez em Paulo Afonso: não vi bocas de lobo. Até hoje não entendo por que [não].
O mesmo problema na Rua Califórnia, BNH, todo mundo se defendendo como pode. Lembrar que pagamos impostos e a CHESF ICMS e royalties. Consequência: inundações, prejuízos, atritos entre vizinhos, brigas na justiça. Estamos cansados de recorrer à PREFEITURA.
Mais parece a avenida Tereza Cristina em Belo Horizonte.