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Professor Nery

Nos tempos do SPOM

Publicada em 07/02/22 às 00:24h - 5588 visualizações

Francisco Nery Júnior


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Nos tempos do SPOM
Juarez Felix, do SPOM, na construção do Memorial Chesf, feito pela Chesf/SPOM  (Foto: Acervo de Antônio Galdino)

Três consequências inevitáveis: o texto vai ser longo, as palavras sairão espontâneas e algumas omissões ocorrerão. SPOM, termo forte em significância que poderia ser mantido ad eternum. A expressão fica em latim já estabelecendo o ambiente de respeito, nobreza e reconhecimento.  


Tratamos do órgão de obras e manutenção do antigo Acampamento Chesf, posteriormente repassado para a Prefeitura Municipal, cuja integridade foi surpreendentemente preservada; até agora preservada. O antigo Acampamento poderia ser tombado, marcado como bem cultural da cidade ou outro recurso do gênero. Aquilo é um oásis fruto do compromisso e da visão de homens como o doutor Amaury Menezes – não obstante pouco lembrado.  


As obras e a manutenção do Acampamento eram realizadas pelo pessoal do SPOM com competência e responsabilidade, embora sem o ritual excessivo dos amantes da pompa e da trabalheira do papel que as traças infalivelmente destroem. A hierarquia no SPOM era relativizada no que deveria ser em função do cumprimento da preservação das casas, vias e sistemas do Acampamento.  


Assim carecia em uma área urbana surgida do nada onde brotaram casas, parques e jardins aos montes mantidos por centenas de jardineiros civicamente empregados pela companhia; jardins esses estampados para todo o Brasil nos trailers dos cinemas atestando o vigor, a cepa e a fortaleza do homem do Nordeste. 


Havia duas penas de distribuição de água no Acampamento, uma de água bruta para os jardins e quintais, que poderia ter sido mantida e expandida para toda a cidade rodeada de água, e outra de água tratada em estação própria. Mais de dez lagos artificiais arrefeciam o calor escaldante do Nordeste. Eles ainda estão firmes e fortes atestando a qualidade das obras supervisionadas pelos engenheiros da Chesf e a qualidade da manutenção pelo pessoal do SPOM. 


Como coadjuvante do órgão, o Serviço de Hospedagem e Apoio com a Casa da Diretoria, a Casa de Hóspedes, o Restaurante e a Sala de Visitantes. Lá exultavam dona Socorro, Eronildes, o pessoal da hospedagem, as meninas da manutenção dos alojamentos e da Casa de Hóspedes; Dona Marina, Carminha e sua turma. 


No Restaurante, o chef Francisco e o time de garçons, todos de gravata borboleta, onde brilhava Graciliano com o seu sorriso franco e a sua conclamação, em alto e bom som, para que “o mais feio olhe para mim sorrindo”. Graci, como os seus colegas Nivaldo, Francisco, Ferreira e Popó o chamavam, fez sorrir até o vetusto Ricardo de Holanda. A motivação foi a gorda gorjeta que eu havia lhe prometido. Hoje eu tenho a plena noção que arrisquei a estabilidade de Graciliano na companhia, embora contasse com a responsabilidade e o fair play do então APA.  


E Márcio, preocupado com a manutenção do estoque da despensa do Restaurante, veio ao gabinete da chefia para que eu assinasse o pedido de uma partida de arroz (eu respondia pelo serviço nas férias do engenheiro Soares). Eram algumas sacas. Poucos dias depois, novamente Márcio para nova solicitação de arroz. “De novo, Márcio, já acabou o arroz?” Até hoje, toda vez que encontro Márcio nas ruas e vielas de Paulo Afonso, rimos à beça com a minha preocupação com o consumo de arroz no Restaurante.  


Ainda nas férias do engenheiro Soares, Dona Socorro (o professor Silva era o APA) me colocou em maus lençóis ao me apresentar a um dos diretores da Companhia, na Casa da Diretoria, como o seu chefe, numa demonstração de consideração e afeto – que eram mútuos. 


Lá no SPOM, quando cheguei para ficar por três anos na assessoria de Fred e Soares, capitães do barco em águas nem sempre plácidas, medalhões nobres e respeitáveis como Juarez, Bosco, Ivanildo, seu Edvaldo, Poli, Edemir, Wilson, seu Assis, Pedro Nascimento,  Zé P..., Yeda, seu Abílio, Abilinho, Edgar, Getúlio, Fortes, dona Josefa na Cantina.   


Mais de trezentos cabras competentes e politicamente formados – ativistas das reivindicações justificadas – reunidos em um pátio único do órgão não deixava de ser uma preocupação. O caldeirão poderia explodir e o controle poderia ir por água abaixo.  

Então aconteceu a astúcia prudente do professor Ivus Leal, lá do CFPPA, e a turma foi dividida em três pequenos SPOM’s, centrais em três locais diferentes do Acampamento.  


Pessoas certas nos lugares adequados. Os engenheiros Fred e Soares tinham sido talhados para liderar a turma do SPOM composta por homens de pescoço grosso e intolerante a qualquer tipo de montaria, homens nascidos sob a influência do cangaço e sujeitos aos rigores da seca em um Nordeste ainda pobre e esquecido, dominado pelos feudos dos coronéis garantidores do poder central da Velha República. O olhar em retrospectiva solidifica o nosso respeito à maneira de conduzir os homens do SPOM por Fred e Soares. 


Se bem observarmos, a manutenção era garantida, os sistemas funcionavam e as obras eram realizadas com garantia de qualidade e duração que raramente observamos nos nossos dias.


Então, nunca será demais louvarmos a abnegação dos nossos bravos pioneiros sem o suporte dos quais a produção de energia elétrica para o Nordeste não teria sido possível. A lembrança e o reconhecimento que todos nós agora expressamos certamente corroborarão a formação de uma geração mais responsável, madura e confiante em uma etapa de desenvolvimento sólida e constante. 


Francisco Nery Júnior. 



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4 comentários


Cláudio José Souza

09/04/2022 - 04:16:58

Sobre Juares, está bem em sua residencia, aposentado.phv


Colega

14/02/2022 - 17:35:00

Onde anda Juarez Felix?


F. Nery Jr.

07/02/2022 - 19:52:49

A pedra da entrada do MemorialAquela pedra gigantesca, que você cita em seu oportuníssimo comentário, Galdino, também tem a sua história. Ela e a que está na entrada da ilha, pedras milenares trabalhadas pelas águas do rio, tinham sido “guardadas” perto da central de concreto na entrada da Usina de Moxotó, pelo que me informaram pelo doutor Amaury. Era a época da administração José Ivaldo e eu, informalmente cedido à Prefeitura durante as manhãs pelo professor Silva, APA de visão sem a contaminação de espíritos menores, tocava o Departamento de Parques e Jardins. Nós, com dois pedreiros e quatro ajudantes, sem nenhum orçamento, dependendo da boa (às vezes má) vontade dos outros departamentos, aproveitando materiais de sucata do Depósito Municipal, conseguíamos urbanizar uma área da cidade por mês. O nível das nossas “praças”? O mesmo da principal praça do Acampamento ao lado do CPA. Tudo está documentado. Com o prestígio de Ivanildo, conseguimos o guindaste e a carreta da Chesf e colocamos a primeira pedra na entrada da “ilha”. Isto foi em 1989. Depois alguém resolveu coroar a nossa pedra com aquele totem esportivo que poderia ter o seu próprio pedestal. Anos depois, encontrei Ivanildo todo orgulhoso de ter colocado a segunda pedra na entrada do Memorial.


Professor Galdino

07/02/2022 - 00:45:19

No Baú de Memórias que o Professor Francisco Nery decidiu abrir nos últimos tempos, ele chega ao SPOM, um Serviço na hierarquia da Chesf que foi a base para uma Divisão, tão grande era a sua importância para a manutenção de todo o Acampamento, hoje Bairro Chesf, de mais de 2 mil residências, escritórios, escolas, clubes sociais, hospital, campo de futebol, muitas praças, logradouros, jardins. Lembro muito de muitos que deixaram marcas fortes na sua passagem pelo SPOM, vários citados pelo Professor Nery, mas quero ressaltar uma obra de grande relevância para o município de Paulo Afonso que é o Memorial Chesf de Paulo Afonso, totalmente construído pelo pessoal do SPOM, em cima de uma planta, desenho arquitetônico, criado por Reginaldo Fortes e tendo como mestre de obras o hoje nonagenário Juarez Felix. Ao final da obra, gastou-se cerca de 10% do que se gastou em outra grande obra na cidade de Paulo Afonso. Coube a Ivanildo, do SPOM, que faleceu poucos meses depois, a responsabilidade de coordenar a equipe, do SPOM, de encontrar e trazer aquela pedra gigantesca, de algumas toneladas, marco dessa obra, que está em frente ao Memorial Chesf - com biblioteca, museu, salão de exposições, auditório/teatro/cinema, a serviço da cultura do município. Ah... a parede de 15 metros, em alto relevo contando a história do rio São Francisco, ao lado, e as figuras dos personagens de livros de Graciliano Ramos, no interior do auditório, são de funcionários do SPOM. As grandes telas são de Hilson Costa, da GRP, cedido ao SPOM para esse trabalho...


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