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Professor Nery

A Igreja de São Francisco aos 24 anos - O amor mal interpretado

Publicada em 03/03/22 às 22:07h - 741 visualizações

Francisco Nery Júnior


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A Igreja de São Francisco aos 24 anos - O amor mal interpretado
 (Foto: Fotos: Antônio Galdino)

Aos 72 anos de inaugurada, continua bela e soberba como no ano de 1950 quando foi inaugurada. É um bem intocável como não poderia deixar de ser. Ela é linda! Construída pelo pessoal nordestino da Chesf, porta de tábuas desta vez não vindas dos céus, mas das mãos de dois carpinteiros dos bons, daqueles que a carpintaria da companhia sabia aproveitar e formar, mestre Otávio Possidônio um deles, ela continua atual. Sinônimo de fé tradicional para os católicos, símbolo da fé dos nordestinos na sua capacidade de produzir e crescer, é também símbolo do amor cristão resumo da estratégia do resgate do homem por Deus. 


Nós nos referimos ao amor que resolve e resgata todas as coisas, amor não engessado por qualquer tradição, muito menos qualquer ideologia. O amor de dar-se a si mesmo sem esperar o troco que, por não ser esperado, certamente virá. 


O amor na prática, na frente da Igreja de São Francisco. Já definimos qual o amor. Há pouco tempo transferido para Paulo Afonso, a namorada, colega da Chesf, veio de surpresa de Salvador para me ver. O ano era 1974. Surpreso e feliz, a recebi e passei a lhe mostrar os encantos do Acampamento e da “Obras”. Já no final, cansados e ufanos de fazer parte da maior epopeia de desenvolvimento do Nordeste, paramos na frente da igreja. 


E sentamos na relva abençoada, oásis de um calor quase insuportável. Para nós, estávamos sob as bênçãos do Onipotente reverenciado e adorado por Francisco de Assis. Descontraídos sentamos. 


De repente, a porta da frente se abriu. Dos dez mandamentos marcados na porta, já dissemos porta bem trabalhada pelos carpinteiros da Chesf, surgiu uma figura de véu na cabeça como se um anjo tivesse descido para nos consolar. Não sei se beata é o termo correto. Só sei que era alguém de corpo e alma comprometida com a sua igreja e a sua fé. 


A nossa surpresa logo se transformou em interrogação. O semblante fechado e carrancudo nos colocou a pensar. Estaríamos nós a profanar o ambiente sagrado da igreja? Estávamos pecando quando apenas valorizávamos um momento sublime de amor entre dois seres? 

Embaixo de palavras duras, com sentido de reprovação – evitamos o termo impropérios – nos levantamos e fomos namorar em outro lugar. O que não nos faltou foram flores e jardins muito bem cuidados pelos jardineiros da Chesf. 


A intenção não é de reprovação aos cuidados da senhora fervorosa, crente na sua igreja. Ela estava na sua cruzada de manutenção daquilo que ela considerava um verdadeiro cristianismo. Ela viva, lhe enviamos agora um abraço oceânico mais profundo que as regiões abissais (a expressão foi cunhada pela acadêmica Maria do Socorro Mendonça). 


Para os que gostam de crônicas, cremos ter escrito uma. 


Francisco Nery Júnior 




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1 comentário


Aníbal Nunes

04/03/2022 - 07:10:07

Belíssima crônica. Deus abençoe o casal que tentou namorar na igreja de São Francisco e saiu de fininho para não incomodar as orações da beata.


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