Eram os primórdios. Sem dúvida, eram. No CPA (Clube Paulo Afonso), Luiz de Deus jogava bola. Sempre magro e esguio, dava os seus dribles e fornecia passes precisos. Se ele não fosse prefeito, não sei se eu teria usado o termo preciso. Mas o cirurgião competente – que foi perdido para a política - jogava bem. Até onde vai a minha parca capacidade de julgamento, jogava bem. Dentro do cercado Acampamento, tínhamos que ir ao CPA e tentar despejar as tensões acumuladas.
Não sei se já era diretor do Hospital [Nair Alves de Souza]. Na quadra, no lado oposto, Zezinho, outro médico comedido e discreto. Como na quadra o nivelamento é raso, uma das vantagens do esporte, Zezinho dispensava as honras. Brusco e decidido na disputa da bola, aos esbarrões empurrou o doutor Luiz para fora da quadra. Aquela era a hora de tirar proveito da neutralidade, quiçá uma vingançazinha sem risco, e foi o que Zezinho fez. Ao chefe, talvez prevendo o calvário da paciência na política selvagem, que ele uma vez taxou de “essa p...”, bastou um sorriso de compreensão, resignação e aceitação. O doutor Zezinho era um cabra reto e outros matches se seguiram sem maiores problemas.
Luiz deputado, eu me encontrava no nosso aeroporto – elefante branco que lamentamos, sonho da Chesf que incompreensivelmente recebe poucos aviões. Passou ele apressado para não perder o voo sem, contudo, não se permitir dar meia-volta, cambar para o lado e me cumprimentar. A narrativa serve para atestar ao leitor a minha confiança em estar escrevendo esta crônica.
Doutor Luiz tinha sido eleito prefeito. Derrotou José Ivaldo em Gilvo de Castro e se sentou na cadeira de prefeito. Seu Euclides Ribeiro, autodesignado Sancho Pança do nosso Dom Quixote prefeito, foi para a Secretaria de Serviços Urbanos para, um dos seus primeiros atos, cortar uma árvore! Evidente que seu Euclides deve ter sido induzido ao erro por qualquer motivo que não vem ao caso. O fato é que uma árvore, que tínhamos arduamente plantado, foi derrubada.
Eu, o autor, que por um ano tinha dado o melhor para implementar na cidade uma mentalidade ecológica, por um ano emprestado pelo Estado e pela Chesf à Prefeitura, não contei conversa e irrompi gabinete do prefeito adentro cheio de indignação. Na verdade, entrei com o consentimento do chefe de gabinete.
O novo prefeito me recebeu de pé! De pé contornou a minha raiva – não contra o afável e dedicado Senhor Euclides - e, daí pra frente, ninguém mais ousou destruir uma árvore na cidade, seja à revelia do titular dos Serviços Urbanos, seja por pura insensibilidade.
A matéria se estende e carece encerrar lembrando a entrevista que o prefeito nos concedeu no seu gabinete há não mais que um ano. Sentados face a face, auxiliares de faro ladino como cães de guarda disfarçadamente a rodear – alguns a interferir não sei para quê -, conversamos a valer. Não importava a fila no lado de fora. Doutor Luiz conversava como a me dizer que finalmente alguém tinha lhe oferecido uma oportunidade de conversar desapaixonadamente; que política é conversa e é conversando que os problemas são resolvidos.
Então eu lhe pedi um resumo escrito para o site, ao que ele respondeu que eu mesmo o fizesse. Aproveitei a confiança e condensei a nossa conversa que foi publicada sem nenhuma contestação de quem nos parece despojado de birras de somenos importância.