Foi no dia 08 de agosto. Já debilitado, quatorze anos e quase três meses, velado e vigiado ao lado da minha cama, ele esperou o meu despertar. Eram três horas e quinze minutos [da manhã]. Estirou a perna esquerda, deu o último suspiro e morreu ouvindo a minha voz. Nasceu e morreu ouvindo a minha voz. Em paz e saturado de vida, partiu para o céu dos cachorros. Ainda bem, para a tranquilidade dos leitores, o professor Rubem Alves flertou com a possibilidade de um céu dos cachorros.
Continua comigo, sepultado no meu jardim agora mais completo; mais composto, mais integrado, mais nobre, mais valorizado e mais amado – pela presença de Otta nas suas entranhas. Quiçá intocado para sempre até a consumação dos séculos.
Otta, para os novos, era um cachorro. O meu cachorro. Era, de fato, o filho da minha velhice. Desculpe o leitor, mas foi uma doçura ter amado Otta; com ele vivido e interagido. O vazio é um fato. A qualidade desta escrita deve ter caído. Não há mais Otta ao lado do computador durante a sua gestação.
O título fala de uma nova vida de Otta. Repare o leitor que foi evitado o termo ressurreição. Seria um escândalo para os mais cuidadosos, senão xiitas. Talvez um exagero ou até uma aberração canônica.
Entrementes, verifique o leitor a foto que vai com a matéria: com sete dias quase completos da companhia de Otta nas suas raízes, a primeira resposta poderosa, convincente, irrefutável, sublime e bela da nova companheira. Lá bem no alto, aberta na sua intimidade para o além, o primeiro buquê da nova florada da mesma companheira.
Então, continuo contemplado – e consolado - com a presença do meu assessor. Só que um pouco mais distante do computador.
Francisco Nery Júnior
Eu lhe entendo, pois lá em casa tem Dulce, uma cadelinha que eu digo ser gente desfaçada de cachorro.
Deverás, como os nossos amigos animais são companheiros e parceiros !Vivi esta experiência triste quando tive que sepultar o meu cãozinho e o fiz numa cidade distante, Feira de Santana. Viveu o tempo previsto para a raça, 14 anos. Tenho inúmeras fotos dele conosco. Sempre que olho me bate uma saudade. Ele foi um filho animal, um companheiro obediente. Me faz falta ainda hoje.
Simplesmente espetacular esse texto sobre a partida de sua cadela Otta para o céu dos cachorros. Uma prova de carinho pelos bichinhos de quatro patas. Tenho uma vira-lata dócil, amável e vigilante. Cuida bem da gente aqui na roça como se fôssemos parentes seus. (ou somos?).Sempre que conversamos com "Estrela", temos a impressão que ela nos ouve e entende, sabe quando estamos tristes, alegres, tensos ou quando vamos na cidade. Sabe e exprime muito bem abanando a cauda, murchando as orelhas ou brilhando os olhos. É uma companheira do nosso dia a dia, que até quando dá uma fugidinha para ver sua irmã e seu tio na casa do ex-dono, sentimos sua falta. Lourdinha entristece, eu percebo e pergunto: o que houve minha filha? Tô com saudade de "Estrela".