Seria o caso de nos lembrarmos da Fênix, ave lendária da mitologia grega que morria, mas depois de algum tempo renascia das próprias cinzas. Luiz Inácio da Silva, o Lula, aos setenta e seis anos, casado pela terceira vez, por viuvez, renasce do ocaso político para nos surpreender com os índices de aprovação entre grande parte dos brasileiros.
Qual o segredo, poderíamos indagar? Qual a magia para despertar um tipo de fé, ou confiança, que quase todos nós julgávamos impossível de obter? Em outras palavras, poderíamos grifar motivar o eleitor. Fazê-lo reagir. Engajá-lo na luta. Esta tradução parece mais fiel ao original em inglês.
No livro Killing Cockroaches (matando baratas literalmente), Tony Morgan pode nos dar a resposta. Ele nos fornece a receita para a mensagem chegar ao âmago do ouvinte, no caso o eleitor. Lula, que não é bobo, não é analfabeto nem ingênuo (ele estudou e completou um curso profissionalizante de segundo grau), deita e rola arrebanhando o voto dos que nele são seduzidos a confiar. Onde aparece “você” no texto original, grafaremos “o eleitor”.
Tony Morgan afirma que o eleitor quer ouvir o seu coração, e não o seu cérebro. Se você ouve o eleitor, ele certamente o ouvirá. Quando você admite escorregões ou faz bobagens, o eleitor se identifica com você. Para ele, você é real, tão vulnerável quanto ele. A simpatia, pelo menos a empatia, é certa.
O eleitor pode não estar convencido da verdade, mas ele se toca com as histórias contadas, preferencialmente no seu nível de cultura e linguagem e quando elas o descontraem ou o fazem rir.
Não basta para o eleitor ouvir. Ele quer ver e experimentar, certificar-se da “verdade”. Não basta o candidato pensar que ainda controla a mensagem. O excesso de “enfeites” na realidade espanta o eleitor que não está interessado em palavras bonitas e cultas. Para alcançá-lo, a mensagem tem que ser “para ele”, e não para todo mundo; não generalizada. Se assim não acontecer, ele perde o foco e o interesse.
Um discurso curto, conciso e “direto ao assunto” tem maior impacto. Tecnicalidades não interessam ao eleitor. Melhor ainda, o candidato não perde o eleitor se ele não tiver resposta para tudo. Este parece ter sido o insucesso do candidato Ciro Gomes.
Sondar o eleitor é fundamental; certificar-se das suas dúvidas e anseios. Pode parecer “xaropeza”, mas a repetição ajuda o eleitor perceber a sua posição ou a segurança da sua argumentação; a sua sinceridade no final das contas. Para os romanos, a repetição é a mãe do estudo. Fundamental a percepção que o seu discurso não é para você. É para [conquistar] o eleitor que, afinal, não está obrigado a ouvir o seu discurso.
Lula, se por mera intuição ou por observação e estudo caprichado, segue os princípios expostos por Tony Morgan e vai seduzindo boa parte dos brasileiros arriscando conquistar, pela terceira vez, a presidência da República.
Francisco Nery Júnior