Passadas as eleições, vamos viajar. Para o povo, o que o povo merece e vamos viajar. Viajar é um encanto. Nesse encanto, 49 camisas. Foi o quanto, só de camisas, o amigo trouxe dos Estados Unidos na sua última viagem de prazer. É, vamos assim dizer, a sua neurose – que ele confessa e curte.
Qual seria, em última análise, o real prazer de viajar? Estar nos locais históricos, uma delícia. Hospedar-se uma semana num barco flutuante, nada menos que na Amazônia, e rodar e navegar nas águas abundantes do rio, um prazer indescritível.
Prazeres semelhantes às 49 camisas? Pode ser. Nos Estados Unidos, bem pertinho da Casa Branca de onde o presidente Richard Nixon saiu de helicóptero após ter caído nas armadilhas da oposição (assinante da revista Time, o acompanhamento do calvário de Nixon, um dos melhores presidentes americanos, herói de guerra, responsável pela reaproximação com a China de Mao Zedong). A presença no depósito de livros velhos, em Dallas, de onde Lee Oswald oficialmente atirou em John Kennedy e a foto tirada bem no local onde o presidente recebeu o primeiro balaço.
Ainda nos Estados Unidos, o estudo no Texas (a escolha do Texas se deu pela dureza de postura dos texanos) e a visita à Disneyworld onde vagam os americanos a olharem para todos os lados sem rumo nem pressa ao consumo desenfreado de sanduíches, refrigerantes e sorvetes.
Agora a França. Claro, a Torre Eiffel e a Champs Élysées. A foto bem no local onde Adolf Hitler saboreou a conquista da França quatro ou cinco anos antes de, vencido, dar um tiro na têmpora. Por trinta dias, estudo intensivo de francês em Toulouse, cidade do sudoeste onde esteve Napoleão Bonaparte.
Na Inglaterra, a troca da guarda em frente ao Palácio de Buckingham com a provável entrada por força de uma crise aguda de pedra no rim inesperada. “Infelizmente”, na bolsa da esposa o providencial pain killer. Perdido um encontro com a Rainha Elizabeth II.
Península Ibérica, Portugal e Espanha. Espanha duplamente sábia: monarquia constitucional restaurada e a adoção do parlamentarismo.
Para Portugal, um parágrafo especial. Terra dos nossos ancestrais. Lugar de partida de um bisavô paterno responsável último desta escrita. Bondinhos de cem réis em Lisboa, identidade linguística e cultural, o rio Tejo e a cadeira de Fernando Pessoa em frente ao bar. Do barranco das terras lusitanas, a visão das caravelas partindo para o descobrimento e a astuta retirada de Dom João VI para o Brasil fugindo da onda avassaladora de Napoleão Bonaparte.
Na Holanda, o avanço das bicicletas com zero poluição e a visão imaginada de muitos primos dos pernambucanos prováveis descendentes dos componentes do batalhão da invasão do Brasil colônia onde permaneceram por vinte e quatro anos.
Findo o pesado período de estudos em Toulouse, França, um pulo para relaxamento na Itália onde, em Roma, o Coliseu dos gladiadores e dos mártires cristãos e a satisfação profunda de pisar na terra maratona final do Apóstolo dos Gentios, Paulo, impiedosamente decapitado segundo a tradição.
Imperativo o Vaticano com a entrada na Basílica de São Pedro, surpreendentemente sem cobrança de taxa, no seu esplendor arquitetônico passando ao lado do túmulo de João Paulo II.
Cabo Verde, na África, por três vezes um duplo prazer. A língua é a mesma e parte da origem também. A emoção de estar diante do pelourinho onde uma pequena parte dos nossos avós, alguns amarrados, sentiram a África pela última vez antes de serem trazidos para o Brasil. Cidade da Praia, a ilha capital (Cabo Verde, na costa ocidental da África, é composto por dez ilhas), onde os motoristas respeitam as regras de trânsito e onde apenas um quebra-molas se fez apresentar. Ah, a delícia de um real forte frente ao escudo. Com vinte reais, um jantar no principal restaurante da capital e táxi pra lá e pra cá por dois ou três reais a corrida.
Da Espanha, o insucesso da ida ao Marrocos, no norte da África, impossibilitada por uma crise renal e, em Cabo Verde, a decepção de não ter voado por trinta minutos para o Senegal de fronteiras fechadas por causa do vírus Ebola. Em ambos os casos, o objetivo seria praticar o francês.
Como se você não estiver sempre querendo mais, terá sempre menos (Aristóteles Onassis), o desejo e a esperança de um giro compreensivo pela Amazônia e o prazer último de andar por onde Jesus andou.
Francisco Nery Júnior
Nota do Editor: - Texto atualizado às 22:35h de 09/11/2022, após correções e acréscimos do autor.
P.S.Findo o pesado período de estudos em Toulouse, França, um pulo para relaxamento na Itália onde, em Roma, o Coliseu dos gladiadores e dos mártires cristãos e a satisfação profunda de pisar na terra maratona final do Apóstolo dos Gentios, Paulo, impiedosamente decapitado segundo a tradição. Imperativo o Vaticano com a entrada na Basílica de São Pedro, surpreendentemente sem cobrança de taxa, no seu esplendor arquitetônico passando ao lado do túmulo de João Paulo II.
Ler, no texto, "a Champs Elysées" e Cidade da Praia", capital de Cabo Verde. Desculpem, mas a versão anterior à final foi publicada.