Salvador é um conjunto de encantos. Abundam e coalham a cidade de verdadeiras armadilhas que pegam o turista pela vista, pela boca e pelo pé.
Um deles, no Terreiro de Jesus, a Faculdade de Medicina da Bahia, a fundada por Dom João VI em 18 de fevereiro de 1808 por Carta Régia como Escola de Cirurgia da Bahia.
É um mergulho no tempo que nos faz sentir no futuro. É um museu que guarda a verve e a vocação da Bahia como berço do Brasil. Placas, esculturas e fotos que mostram formandos e gestores que muito bem serviram à Bahia. Uma das primeiras, a de Edgar Santos, fundador do campus moderno da UFBA, Universidade Federal da Bahia. Lamentavelmente, só de quando em vez, para evitar de século em século, aparece um Edgar Santos.
No Terreiro de Jesus, em esquina com a entrada do Pelourinho, onde sempre vou zanzar quando na Bahia – e onde costumava entrar para lanchar na cantina dos discentes, eu funcionário de primeiro emprego nas Folhas de Pagamento da Companhia Energia Elétrica da Bahia, hoje Coelba, na Praça da Sé -, o prédio convidativo que exala cultura, saber e tradição que sentimos na primeira pisada da visita.
Em uma das idas para o lanche, em exposição quase rente à calçada, bem na porta principal, algo perto de doze cabeças ressecadas. A ideia de artesanato logo se desfez quando verifiquei serem as cabeças [as cabeças] de Lampião, Maria Bonita e seus cabras trucidados anos antes na Gruta de Angico. Como na saga de Canudos, a opção da negociação ou da abordagem diplomática tinha sido descartada. Instituições de respeito junto à população nordestina haviam se omitido.
Já em outra empresa de energia elétrica, a Chesf, já em Paulo Afonso, já em outro tempo quero dizer, talvez como turista na mesma terra de nascimento, sempre, ao passar pelo Pelourinho, a vontade de entrar. Como dito, lá lanchava (fica o cacófato) e foi lá que quase presenciei a autópsia de um sobrinho morto por atropelamento em 1968 no famoso Instituto Nina Rodrigues, nome de outro luminar da faculdade. O cunhado era coronel da Polícia Militar, estava fardado, e nos deixaram entrar. Saímos, todavia, ao considerarmos a dureza desnecessária de ficarmos. Apenas o desconforto de vermos o cérebro do jovem falecido ao lado do corpo e, ato contínuo, ser levado nas mãos pelo assistente do médico legista Charles Pitex, nome sempre presente nas crônicas policiais da Bahia. Das mãos do assistente, ainda podemos presenciar pedaço do cérebro cair no chão para desconforto e desajeito do mesmo. Os tempos eram outros e os procedimentos eram, podemos dizer, rudimentares.
Todo esse parágrafo para justificar ao leitor a minha determinação de entrar no velho prédio da faculdade e me sentir no futuro. Entrei, pisei no chão da época dos meus sonhos e bebi do néctar da cultura dos luminares da Bahia bem preservado no agora Museu da Faculdade de Medicina da Bahia.
Fomos, a mulher e eu, acompanhados por dois guias pelo percurso. Em uma das salas, assentado em uma mesa, nada menos que o atual diretor da faculdade, o doutor Luiz Adan, em conferência com uma senhora que, pela postura, se me pareceu uma das lentes. No ambiente vetusto, por vezes assustador pela sua opulência histórica, todo o cuidado do visitante para não ser inconveniente. Liderados pela guia, competente, bela e dedicada no seu trabalho, avançamos mais para perto. Ela já nos tinha avisado que aquele era o diretor da instituição “em carne e osso”.
Para nossa surpresa, o doutor Adan desviou-se da entrevista com a sua interlocutora e nos dirigiu palavras amáveis de acolhimento. A minha retribuição foi lhe declarar a importância e a honra para ele de estar ocupando o lugar do doutor Edgar Santos e de muitos outros mestres importantes para a Bahia.
Não deixou de ser uma surpresa, coisa de pouco acontecimento, o que ele retrucou: “[Isso] só aumenta a minha responsabilidade”. Data vênia e com todo o respeito, reação, humildade e comprometimento que muito faltam à maioria dos nossos gestores.
E para encerrar, não posso deixar de acreditar que a ousadia e a honra da acolhida a nós conferidas se deveu à nossa apresentação como colunista de um importante site da cidade de Paulo Afonso.
Passo para o leitor o agradecimento do doutor Adan à "BELÍSSIMA" Paulo Afonso: Prezado Senhor,Falando em nome da equipe do MMB e no meu próprio, agradeço sobremaneira pela avalição positiva e divulgação do nosso trabalho na belíssima Paulo Afonso. Com os meus melhores cumprimentos, Luís Fernando Fernandes Adan
Passo para o leitor o agradecimento do doutor Adan à "BELÍSSIMA" Paulo Afonso.
Passo para o leitor o agradecimento do doutor Adan à "BELÍSSIMA" Paulo Afonso.
Acessando no Google "Médico Charles Pitex", vamos encontrar o nosso artigo incorporado à história do legista Charles Pitex.;
Banho! Lavada!!!!!! Bola na cesta!!!!!!!
Feita a correção e acrescentado um parágrafo pelo autor. O editor.
Corrigenda: No texto. pudemos no lugar de podemos. Desculpem-me a falha.
Gratidão por nos oferecer esse encantador passeio, Nery Júnior!