Assim dita a cartilha e assim procede o novo governo brasileiro: posse realizada e vamos mostrar trabalho. Como um [brasileiro], eu desejaria ou faria diferente. Procuraria tomar pé da situação, consultaria meus assessores, depuraria as informações, procuraria me despojar de qualquer dose de jactância, orgulho ou mesmo vingança e, sem pressa – que é inimiga da perfeição -, tomaria as minhas decisões. Isto considerando estar eu imbuído do mais puro, sincero e ingênuo espírito de amor ao Brasil. Assim faria. Assim fazemos nas nossas casas. Assim funciona e assim são evitados equívocos, trapalhadas e prejuízo para o bolso e, no caso, para o desenvolvimento do nosso país.
Trinta e sete ministros, cada um a seu lado a meter o pé na porta e tentar resolver os problemas nacionais no ímpeto da vitória não nos parece comportamento apropriado aos novos dirigentes de um Brasil grande que urge pelo desenvolvimento. Com cada um no seu feudo duramente conquistado a decidir fora do conceito do todo, não chegaremos ao crescimento que tanto desejamos. Os militares nos ensinam a importância da unidade de comando e os nossos pais nos passaram a sábia lição condensada na afirmação de que na panela que muitos mexem, o caldo azeda.
Em uma sala de debates em uma emissora qualquer, a discussão da falta de médicos no interior do país. No debate, a volta do programa Mais Médicos e a volta dos médicos cubanos. O debate se estendeu por longo tempo até a constatação de a tabela de remuneração do SUS (Serviço Único de Saúde) estar ridiculamente defasada.
Em outras palavras, não há dinheiro no Orçamento da União para a atualização da tabela de pagamento para os serviços dos médicos embora, vale notar, haja dinheiro para o aumento do salário do presidente da República, ministros, senadores e deputados. Voltamos ao conceito do cobertor curto que não consegue cobrir todos da cama.
De janeiro a novembro de 2022, a arrecadação federal chegou a pouco mais de dois trilhões de reais. Cerca da metade foi dedicada ao custeio da máquina federal. A outra metade foi consumida no serviço da dívida interna. A sobra para investimentos públicos, sem os quais não teremos desenvolvimento, não passou dos cem bilhões. Se considerarmos que uma empresa estatal como a Petrobras dispõe de três vezes esse montante para os seus investimentos, verificaremos que chegamos ao ponto de penúria que temos estado prevendo para o Brasil há cerca de dez anos.
Acrescente-se à tristeza e à decepção ao vermos a destinação dos recursos tão penosamente produzidos pelos brasileiros o fato de cerca de 124 bilhões terem sido destinados para a Área de Defesa que poderia ser garantida, a defesa nacional, com uma Polícia Federal forte após uma negociação muito bem trabalhada com os nossos vizinhos.
O meu colega Juan, quando estudávamos em Houston, no Texas, me explicou a razão de o seu país, a Costa Rica, ter a maior renda per capita (Produto Interno Bruto per capita) da América Latina: “Francisco”, me disse, “nosotros non tenemos fuerzas armadas”. Segundo o Google, o Produto Interno Bruto per capita 2021 da Costa Rica foi superior ao PIB per capita da União Europeia.
E assim prosseguimos no esforço hercúleo de não desistir do Brasil.
Francisco Nery Júnior