É a sua sede e a sua paixão: a rede. Símbolo do Nordeste, a rede é um dos símbolos da nossa região. Assim, José se esbalda em prazer. Pra lá e pra cá, de um lado para o outro, ele se embala a ver o tempo passar. A rede, pessoal, é um dom de Deus. Prazer de produção para as rendeiras e tecelãs, prazer último do nordestino de bem com a vida.
Viver em uma rede é um direito! Onde fica, afinal, o direito de liberdade do homem? Dormir em uma rede, nela se estender ao canto dos pássaros tagarelas e do latido fiel dos cães saltitantes, um prazer inefável. E assim a vida passa para o nosso personagem.
Todos os atributos que o autor se esforçou para descrever já eram aproveitados por José. A rede está devidamente surrada a pedir substituição. O sono é bom, a soneca exponencial e o relaxamento, do corpo e da alma, garantido. Agora, José amparado pelo sistema, a garantia fica assentada para sempre. José, leitor, foi aposentado aos sessenta e cinco anos, algo parecido com a Renda Mínima. Ótimo! Que bom! Bom ver o próximo amparado, garantido para si e a garantir o mínimo para os netinhos.
O dinheiro de José sai dos cofres da Previdência Social, dinheiro coletado dos contribuintes, garantido que contribuinte é aquele que trabalha. José nunca contribuiu para o sistema previdenciário. Está ancorado e assistido pelos recursos do sistema que poderiam ser recursos de outro “sistema”. Qual sistema, deve o leitor estar a matutar? “Sei lá, p...”, responderia Dercy Gonçalves, “eles que resolvam”.
Muitos que suaram e ralaram anos a fio e fielmente contribuíram para o sistema hoje amargam a decepção de terem sido traídos na sua confiança. Olham para o nosso José e, embora felizes pelo princípio do amor ao próximo, ficam incomodados ao considerar princípios tais como isonomia, justiça, ou mesmo a demagogia de determinados salvadores da Pátria – com o dinheiro dos outros!
Francisco Nery Júnior