Notável a dedicação dos pais de Paulo Afonso aos seus filhos. Durante cerca de quarenta anos de atividade nos nossos colégios, pude constatar o cuidado e o zelo dos nossos pais pelos seus filhos. Pude ver o que a jornalista Julie Falcoz, do Le Figaro, chama de martirização em artigo publicado em 25.01.2023. Nem um exemplo sequer de descaso, falta de um livro, uma calça rota ou um sapato furado.
Os nossos pais se anulam pelos filhos. Cada vez mais se anulam. Pode ser até por força de uma aposta, de um desejo de sucesso transferido, um nível de vida e conforto que eles não tiveram. Mas o fato é que se anulam. Aposentados, velhos e reclusos, vivem nos filhos a vida que poderiam estar a viver. Poderiam manter os sonhos e, com eles, o vigor da vida. Viveriam, sonhariam e produziriam. A vida só vale a pena em sonhos e produção.
De novo, os nossos pais se anulam. Morrem antes do tempo. “Hoje, os pais se deixam martirizar [maltratar, sofrer] pelos seus filhos”, entra no debate a psicóloga Caroline Goldman citada pela jornalista.
Os pais trabalharam, suaram e pouparam para um ocaso de vida decente e seguro. Uma boa parte dos filhos, que nos permitimos, com certo respeito, chamar de folgados, no mínimo folgados, lhes tiram essa possibilidade. Lhes sequestram esse direito. Velhas senhoras e vetustos senhores a criar netinhos gerados nas baladas da noite e a fatiar os seus geralmente magros vencimentos para pagamento dos malfadados empréstimos da Previdência Social.
“No tempo em que um bom número de pais aplica[m] os preceitos da educação benevolente [amor, diálogo e limites], a psicóloga clínica Caroline Goldman alerta para os desvios e chama a atenção para a importância dos limites na educação dos filhos”, finaliza Julie Falcoz.
Francisco Nery Júnior