A expressão é do professor Rubem Alves, salvo erro, engano ou omissão. Ele observava a profusão de cursos de oratória e nunca via curso de escutatória.
Pois é, há pessoas que não sabem escutar. Algumas não querem escutar. Falam e mais falam arriscando serem alugadoras do ouvido alheio. Muitas delas são sinceras e proativas. Outras são cultas e têm o que acrescentar. Mas falam muito. Só falam – e não escutam!
É a sua fraqueza, idiossincrasia, ponto fraco, medo, insegurança talvez. É assim mesmo. Todos somos fracos, imperfeitos, e assim carece ser, senão a salvação não seria pela graça. Inútil ou desnecessário o sacrifício na cruz. Poderíamos todos ser vaidosos.
Frisar e cuidar da escutatória. O povão, nosso mestre maior, já nos alertava de antemão que, por falta de [escutar] um grito, o burro cai no atoleiro, caímos no atoleiro. E mais vem à mente a observação do professor Humberto, nosso Betinho, ex-diretor do Polivalente de Paulo Afonso: “Eu nunca me permito tomar uma decisão de cabeça quente”.Escutatória; ouvir e ponderar. Postergar uma decisão, ponderar e voltar atrás. Só um voltou para agradecer o milagre. A escutatória é uma virtude dos sábios.
Falar pouco é outra virtude dos sábios. Falar na hora certa. Preencher uma lacuna. Evitar a queda da boiada no precipício. Se os governos poderosos da época tivessem escutado Winston Churchill, Hitler poderia ter sido abortado no nascedouro. Holocausto e milhares de mortes, sofrimento, atraso e penúria evitados.
O silêncio também comunica e pode ser sinal de poder. O muxoxo gutural das nossas venerandas senhoras pode comunicar mais que os longos discursos de Fidel Castro. Os poderosos de uma organização são os que falam pouco. Eles trabalham nos bastidores. Tramam, urdem e tecem. Cuidado com eles que sabem da competência dos justos e procuram evitá-los. Não os querem por perto. Em uma reunião, carece observar que os que falam muito não são os poderosos do pedaço. Esta observação foi feita por Lee Iacocca, ex-presidente da Ford e o salvador da Chrysler. Está no seu livro best seller.
Então hora de parar e escutar os comentários pertinentes dos nossos leitores.
Francisco Nery Júnior
P.S. Um agnóstico, com todo o respeito, observou que os crentes são puxa-sacos de Jesus Cristo. Claro que somos! Assumimos. Data vênia, puxa-sacos também dos leitores.
Verdade, Professor Nery. Já ouvi um idoso, sábio, dizendo: Se Deus quisesse que nós falássemos mais que ouvir, nos teria feito com duas boas e não duas orelhas... Mas, infelizmente, muitas vezes, quando a gente se dá conta, já falou além da conta...rs