Parecia estarmos no Ágora da Grécia, ou em dos banhos públicos de Roma, em plena harmonia. Estávamos, sim estávamos, no Memorial da ALPA. Desculpem-nos os senhores diretores. O Memorial, naquele momento, era da Academia de Letras de Paulo Afonso.
A referência é ao dia 31 de março e o regente era o colega acadêmico Edson Mendes. Ele é amante da cultura. Foi um funcionário de alto escalão no Banco do Brasil, banco onde as melhores cabeças costumam se agregar – por concurso; sem incentivos ou muletas. Sem puxa-saquismo, não faz mal acrescentar.
O tema anunciado era educação. E Edson o desenvolveu banhado na filosofia dos grandes mestres da Grécia antes dos romanos. Da trinca Sócrates, Platão e Aristóteles, os fundamentos da educação e da cultura ocidentais. Veio Parmênides e Tales de Mileto, como veio Diógenes, o filósofo inquilino do barril ou tonel de madeira.
E a mim me vieram as aulas deliciosas de filosofia do professor Edvaldo no Colégio Central da Bahia, berço de diversas cabeças iluminadas do Estado da Bahia, polidas no nosso inesquecível Central. Estudávamos filosofia, na época classificada como ciência. Íamos aos fundamentos. Discutíamos com Edvaldo, pessoal. E ele gostava – e incentivava. Ele era um educador com E maiúsculo. Nos provocava arriscando as incompreensões que costumam acontecer. Discutíamos como adversários [eventuais]. Nunca como inimigos. Na filosofia, só acumulamos amigos.
Além da filosofia, tópicos da nossa história, bem como pinceladas precisas de organização empresarial praticada no banco pelo conferencista no afã do ganho de capital. Capitalismo sem ganho não é capitalismo. Há que haver o lucro para o bem de todos como comunidade ou nação.
Mais uma vez, no intervalo, o canto do acadêmico Oscar e os acordes do violoncelo do jovem visitante Aldair Tomé. Eu, desta vez, estava na fileira da frente e arrisquei sugerir um solo de violoncelo. Arrisquei mesmo sugerir um trecho de Vivaldi. Teria sido um encanto, feérico e forte, o som do instrumento a encher o auditório cheio da presença de vários pauloafonsinos amantes do bom gosto e da cultura.
O programa, porém, foi se estendendo e o musicista teve que se retirar. Resta-nos sugerir ao nosso órgão de cultura um convite específico ao jovem para um recital em breve oportunidade.
E eu, eventualmente o escritor destas linhas, terei a oportunidade de reviver momentos de gozo cultural a assistir aos concertos da Orquestra Sinfônica da Universidade Federal da Bahia, o meu velho pai a dialogar, no contrabaixo, com o violoncelista Juarez Johnson, seu melhor amigo de orquestra, sob a regência do maestro Carl Reuter, todos impiedosamente silenciados pela morte inevitável e estraga-prazer.
Realmente, professor Nery,nos sentimos em Roma com o momento vivido com a palestra-aula do nosso confrade Edison Mendes. Só lástima por quem não foi,perdeu de viver uma hora maravilhosa. Parabéns pra Edison Mendes e pra você que retratou tão bem essas emoções. Abraços.