Roberto Campos Neto é o presidente do Banco Central do Brasil. Como está implícito, Ele é neto de Roberto Campos, um dos grandes economistas do nosso país. Eu li as memórias de Roberto Campos. Além de economia, aprendi um pouco mais sobre a arte de escrever. No caso, de ser conciso. Evitar a verborreia por assim dizer.
Está lá: um vendedor de peixe colocou a necessária placa na frente do seu estabelecimento, isto é, a placa desnecessária. “Aqui se vende pescado fresco.” O “aqui” pode ser dispensado. Claro que não é acolá. “Vende-se”, também. Ninguém anda distribuindo peixe à toa. Evidente, também, que ninguém vai anunciar peixe podre. Finalmente, todos sabiam que a zona da cidade estava localizada bem mais abaixo da rua. Assim sendo, o cheiro pertinente só poderia ser de pescado.
Muito pode ser admirado e assimilado das memórias do avô do presidente do Banco Central. Neste momento, abril de 2023, o neto passa por uma carga de torpedeamento quase generalizado motivado pela taxa de juros Selic na ordem de 13,75% imposta à economia do Brasil pelo Banco Central.
Ninguém gosta de pagar juros. Ninguém aprecia uma economia cabrestada por uma alta taxa de juros. Precisamos crescer, sem inflação, o único caminho para a tal bendita justiça social.
Mas taxa de juros baixa, estimulando o consumo sem correspondência de produção, junto com a emissão de moeda sem o necessário lastro fatalmente traria de volta a inflação desenfreada que bem conhecemos.
Conhecemos suficientemente as suas consequências. Passamos por ela uma vez e solidamente a vemos como potencial fator de miséria e desigualdade social.
Há anos alertamos, neste site, que estamos em um grande Titanic. Estamos afundando. A Grécia e Portugal uma vez afundaram. A Argentina está a afundar. Pagam e estão a pagar pela irresponsabilidade dos seus governantes.
No Brasil, de toda a arrecadação conseguida, quase a metade vai para o custeio. A outra metade vai para o Serviço da Dívida Interna, pagamento de juros imorais e inaceitáveis. Diariamente, de um a três bilhões de reais, fruto do trabalho dos brasileiros, são desviados para o vil pagamento dos juros da Dívida Interna.
Observe o leitor a constatação que nos envergonha e nos entristece publicada em um órgão de comunicação: o que vai sobrar no Orçamento do Governo Federal de 2024 para investimentos em todo o Brasil se limita a 80 bilhões de reais. Isto é apenas um terço do que dispõe a Petrobras para o mesmo período.
Enquanto isso, o governo e os políticos vão se divertindo com os mais variados temas da nossa vida social. E recebem louros e palmas. Nos enganam e escondem o perigo de malas prontas para pular fora na hora do naufrágio.
Como dito, como um Noé tupiniquim nos rincões do Brasil, bradamos e alertamos. E nos consolamos com a declaração do jovem Roberto Campos Neto segundo a qual a dívida alta faz juros altos.
E quem reclama dos juros altos são exatamente os que trouxeram, de 1999 para cá, a dívida de cerca de R$80 bilhões (oitenta bilhões de reais) para a casa dos trilhões de reais. Breve alcançaremos a paridade da dívida/PIB (Produto Interno Bruto) que significa devermos o correspondente a tudo que produzimos.
É como se o leitor devesse – e pagasse juros extorsivos – o correspondente a todo o seu patrimônio acumulado após uma longa vida de trabalho e poupança.
Francisco Nery Júnior
