Ele se sabia vencedor. Estava com ele na alma. Os atributos lhe saíam pelos poros. Logo se certificou que a vida é combate que aos fracos abate. Combate feroz com os que se sentem vencedores a partir dos sinais externos de pompa e superioridade; os donos do mundo, os sabidões sempre presentes.
Sem os ditos sinais, sobre si os olhares de desprezo que o mantinham dentro da concha, sempre de mau humor, com os consequentes rompantes de revolta. Já estava escrito, há muito tempo, que o sábio perseguido faz bobagens.
Estamos tratando do personagem Eugène Rastignac, jovem provinciano doido para se inserir na sociedade parisiense da França dos bons tempos. Lá ele pertencia por direito dos seus atributos. A trama se desenvolve em Le Père Goriot do escritor Honoré de Balzac. O ambiente é a paisagem das carruagens engalanadas das madames e dos barões acostumados a olhar de cima para baixo. O resto, para os tais, é o resto.
Ipsis litteris, ao pé da letra, o excerto do livro de Balzac para o bom entendimento e o repasto do leitor, jovem talvez, que, com raiva ou sem raiva, retraído ou não, sempre será um vencedor: “Com a raiva fria de um homem certo de triunfar um dia, ele recebeu o olhar de desdém das pessoas que o tinham visto atravessar o pátio a pé, sem ter ouvido o ruído de uma carruagem na porta... Ele se retraiu para dentro de si mesmo, de mau humor”.
Sabendo-se vencedor, jamais desistir.
Francisco Nery Júnior