No título, envergadura. Não confundir com arcabouço, que está na moda. Até tem que estar. A dívida pública chega ao seis trilhões de reais e há que haver um arcabouço para nos sangrar ainda mais e pagar os juros da dívida. O pessoal da área econômica, como nós, está a tremer e a gritar. Gritar esperneando. O arcabouço brasileiro de plantão vai desabar em cima das nossas cabeças, as cabeças dos mais fracos. 

Não teremos sítios pródigos para nos abrigar nem triplexes para relaxar. Muito menos aposentadoria de nababo em um apartamento de Paris. 

O presidente Lula da Silva se apoia em seu arcabouço imaginário. Escala a sua estrutura de sonhos imaginando uma envergadura firme. 

A nossa questão é: o Brasil aguenta? É seguro sonhar tão alto e imaginar-se um Nelson Mandela, um Charles de Gaulle, mesmo um Mao, Fidel das Antilhas ou um Winston Churchill dos ingleses?  Um Alexandre ou um César? Liderar o mundo e terminar os dias como secretário geral das Nações Unidas? Morto, o busto em um pedestal? 

O engenheiro Bosco, meu aluno de inglês, que viria a se tornar presidente da Chesf, uma vez comentou o perigo dos sonhos altos sem o devido lastro para realização. Caldo de galinha e cama, meditação e comedimento, não fazem mal a ninguém. Judas se pendurou no calabouço e se estripou forca abaixo. 

Quem deve seis trilhões de reais marchando rapidamente para sete, tem que, além de imaginar um “arcabouço” com a devida brecha para uma raspadinha na cuia para algum gasto ideológico; quem deve essa fortuna tem condições de algum arroubo para liderar a libertação do mundo e o fim das guerras nacionalistas? 

A minha mãe decretava que sem o danado do dinheiro não se faz nada. Há que ter dinheiro. 

Eu me lembro que um grande empresário de Paulo Afonso se levantava do banco na hora que queria, pegava o microfone e divagava à vontade na frente dos irmãos. Um jovem recém--convertido, pobrezinho, cheio de fé, bem intencionado, uma vez se levantou e mandaram que se calasse – se assentasse imediatamente. Que tomasse o seu lugar! Ele não tinha dinheiro. 

Certo que países como os Estados Unidos e Japão, sobre a nossa criminosa dívida, devem mais que o Brasil levando-se em consideração a relação dívida/PIB. Só que eles são potência econômica, o primeiro tem o poder de emissão de moeda, ambos têm uma infraestrutura consolidada para continuar crescendo e politicamente são fortes. Não nos esqueçamos que sem o danado do dinheiro e sem força política, nada feito. 

Mas carece se esforçar e se lançar na arena política internacional (o presidente), argumentaria o leitor que poderia citar alguns heróis bíblicos simplórios que moveram montanhas e abriram mares.  A grande diferença é que eles estavam com Deus à frente e tinham sido arduamente preparados.  

Moisés enfrentou o faraó a abriu o Mar Vermelho para chegar a Canaã. Davi derrotou o gigante com uma simples funda e Paulo ressuscitou gente e venceu doenças e procelas. Foi elevado “até ao terceiro céu”. 

O nome do presidente da Venezuela está no nosso título. Junto com outros líderes latino-americanos, está no Brasil. Todos recebidos no tapete vermelho do Planalto. 

Para encerrar, quem sabe para deleite dos leitores, que já sabem que Moisés era gago, uma piada de judeu: Deus determinou a Moisés ordenar a saída do povo do cativeiro para o Canadá. Como Moisés era gago, o povo entendeu Canaã. Deu no que deu. 

Francisco Nery Júnior