Muita coisa nos intriga neste mundo. A primeira, por que a maioria das pessoas não investe na vida eterna. A segunda, por que tomar cachaça - e drogas outras -, lembrando o termo com toda a ênfase, sotaque, quero dizer, do papa Francisco.
Vale a pena considerar: quem infere a maldição (o Brasil estar atolado pelos erros dos seus governantes é uma maldição) do Brasil do fato de os brasileiros adorarem uma branquinha é o Sumo Pontífice. Francisco de Assis, o papa Francisco, o autor destas linhas, Francisco, e aqui estamos por causa do Rio São Francisco. Melhor ponderar.
Intrigante o Brasil não ter turismo. Ter menos visitantes estrangeiros do que a Torre Eiffel é não ter turismo no Brasil. Quem já teve dois ônibus de turismo por dia, como Paulo Afonso, não tem turismo com apenas um ônibus perdido em dias do mês.
Não ter turismo, serviço de cabotagem e atividade pesqueira em um país de costa tranquila e rios piscosos e perenes é, definitivamente, intrigante. Quem tem contato frequente com estrangeiros sabe[mos] como eles ficam intrigados. E nós não sabemos responder.
Turismo é indústria sem chaminé. Há turismo no México. Há turismo no Chile. Até na Argentina afundante há turismo!
Quem tem uma Amazônia - aí, sim, a Amazônia -, um Pantanal Matogrossense, um Nordeste com ventos permanentes e sol abundante, a Brasília de Oscar Niemayer, a Bahia do Descobrimento, o Rio de Janeiro do samba e o Brasil do futebol tem que ficar intrigado.
O que segue neste parágrafo pode destoar, ou sair um pouco do sentido básico do texto, mas pode salvar vidas. O leitor turista, melhor caprichar na segurança. Confiar desconfiando. De antemão, pesquisa e planejamento. Uma vez uma turista caiu de uma Asa Delta. Outra vez, uma outra caiu na cachoeira e muitas outras vezes turistas são assaltados. Não entrar em barcos sem coletes de proteção, não se pendurar em penhascos confiando em uma única corda, aconselhar-se com os nativos do lugar visitado, e assim sucessivamente.
O mal de o Brasil não decolar em termos de turismo não estaria no critério político da seleção dos seus gestores no que se refere aos órgãos governamentais?
Francisco Nery JúniorTem toda razão o Professor Francisco Nery. É fato que, apesar do grande número de atrativos e condições de oferta de excelentes oportunidades para receber muitos milhões de visitantes, os gestores brasileiros, de todos os níveis, a começar pelo governo federal, em todos os tempos, nunca deram a esse tesouro da economia o valor necessário. A França (68 milhões), a Espanha (48 milhões), a Itália (60 milhões) chegam a receber por ano mais turistas de outros países que o total dos seus habitantes. No Brasil não se chega a 6 milhões. Em muitos municípios então, a preocupação é outra. Cheguei a ouvir de um Secretário Municipal de Paulo Afonso que "turismo não dá voto"... E também ouvi do meu arguidor quando defendi minha tese de mestrado em Lisboa sobre Turismo em Paulo Afonso e na Região dos Lagos. Este meu arguidor era Professor/Doutor do Curso de Doutorado em Turismo da Europa e ao me aprovar ele disse: "Parabéns, Professor. Mas, confesso que não consigo entender como vocês têm tanto e não têm nada." Parabéns por esta avaliação da miopia dos gestores brasileiros sobre o grande tesouro que muitos municípios, como Paulo Afonso, têm, menosprezados por quem só pensa no voto...