O trem do Imperador "vem surgindo de trás das montanhas azuis, olhe o trem". Um visionário lá atrás sonhou com o Brasil Grande. Injustiçado, morreu abandonado pelos brasileiros da elite empolgada com as ideias liberais da moda; morreu em Portugal dois anos depois de exilado tendo sobrevivido com virtuais esmolas dos seus primos da realeza de toda a Europa - Dom Pedro II.
Imperador D. Pedro II, em 1875, aos 49 anos.
Outro visionário, Raul Seixas, cujo túmulo é o mais visitado da Bahia no Dia dos Mortos. Raul profetizou o nosso trem surgindo de trás das montanhas.
O outro mais recente, o governador de Alagoas, empresário e político de visão de 44 anos, idade dos sonhos e dos bons rompantes. Com o sobrenome Suruagy só poderia ser sério, responsável e produtivo. Procura, a nosso ver, fazer diferença, o que nos faz considerá-lo visionário com todo o nosso respeito. Tem, a seu lado, uma companheira chamada Marina, que deve ser a sua inspiração primeira para sonhar. Bem-aventurado o gestor que tem uma mulher com M maiúsculo, induzindo-o a ser sonhador.
Deixamos o governador e embarcamos no trem. Há muito embarcamos, nós outros que procuramos sonhar. Luís Rubem há muito escreve sobre o trem. Antônio Galdino escreve sobre ele, Ozildo Alves reconhece o potencial do seu ressurgimento e o autor destas linhas, de beira menor, também um sonhador.
Estamos tratando da Estrada de Ferro Piranhas/Jatobá, construída por ordem do imperador Pedro II, concluída em 1883 e desativada em 1964 pelo regime Militar que achou por bem optar pelo modelo rodoviário no Brasil. Num traçado accessível até agora, saía Piranhas, em Alagoas, e terminava em Jatobá, atual Petrolândia com 8 estações e 115,853 quilômetros de extensão. A maioria das pontes, túneis e estações estão preservadas. Construídas para durar, cremos ainda aproveitáveis.
Deve ter sido um encanto sair do litoral nordestino de vapor, desembarcar em Piranhas e tomar o trem até Jatobá. Bandeirantismo de visão em pleno Império - sonho e deleite agora compartilhado pelo jovem e visionárioo governador de Alagoas - que promete todos os esforços para realizá-lo.
Segue um mapa do traçado da antiga ferrovia para acompanhamento do leitor.
Grosso modo, podemos considerar três trechos da ferrovia: Piranhas/Delmiro Gouveia, o foco do governador, Delmiro/Moxotó, em Paulo Afonso, e Moxotó/ Jatobá - quase 116 quilômetros de sonho e esperança para o turismo de toda uma região, cada trecho com cerca de 37 quilômetros.
Se o governador que passamos a admirar considera o renascimento do trecho até Delmiro Gouveia, por que não o governador da Bahia considerar a extensão até Paulo Afonso e o governador de Pernambuco considerá-la até Petrolândia? Inveja santa não é pecado. Carece invejar e imitar o sonho de gente responsável.
O Google apresenta algumas expedições que percorreram o velho caminho. Clicando Trem do Imperador ou Expedição Estrada de Ferro Paulo Afonso/Jatobá, o leitor pode acompanhar.
Resta um brado talvez insistente, quiçá desnecessário, para que os nossos representantes políticos e as nossas instituições caiam dentro, pulem para dentro como dizem os americanos. A ideia de trazer de volta o Trem do Imperador é uma das melhores notícias que temos tido nos últimos tempos aqui pelo sertão das Alagoas.
Vamos sonhar, pessoal. Mesmo porque sem os sonhos, a vida acaba.
Caro Francisco, nunca imaginei que pesquisar esse assunto me traria tantos amigos e alegrias!Compartilho de seus sonhos e um dia "breve" ver o trem do ilustre Imperador novamente correr entre nossas serras e iluminar o nosso Sertão de Alagoas a Pernambuco!Abraços!
Como o autor é o pior revisor, vão nos desculpando os leitores. Pedro II morreu em Paris. Bendita a técnica da gaveta. No outro dia a gente relê e, puxa, "cometi um erro!". A pressa de servir ao leitor, levar algo com substância e importância para a cidade e a região nos faz deslizar.