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Professor Nery

Heureca, pra que estudar

Publicada em 09/09/23 às 13:08h - 513 visualizações

Francisco Nery Júnior


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Heureca, pra que estudar
 (Foto: imagem ilustrativa)

Heureca, pretérito perfeito do verbo achar ou descobrir em grego, pesquisei. O termo ficou famoso com o sábio grego Arquimedes. Uma entradinha no Google e o leitor terá toda a história. Como spoil em inglês significa estragar (estragar a festa), não serei um spoiler (o estragador do prazer da pesquisa). O termo está sendo incorporado ao português.

Pois um dia gritei para o meu pai "heureca!". Eu tinha resolvido um nosso problema. Tinha achado a solução. Estava lá pela oitava série e engatinhava nos princípios da filosofia e da história. Também da matemática assustadora; pelo menos para mim. Tanto é que parti para o curso clássico de segundo grau em cujo currículo não constava a danada da matemática. A compensação era os alunos estudarem literatura, filosofia, história, e línguas estrangeiras. Saíamos cultos do segundo grau, embora limitados na bendita da matemática.

Na oitava série, porém, tínhamos matemática. Com ela, e por ela, bradei o meu grito de vitória - heureca. O caso é que faltava água frequentemente na Salvador dos anos sessenta. Construímos uma nova caixa d'água para garantir o abastecimento da casa. Terminado o serviço, a incógnita: qual a capacidade da caixa? Quantos litros armazenaria? Meditamos, matutamos, parafusamos, e mais meditamos.

Então eu me lembrei que tínhamos uma caixa de 200 litros já instalada. Esvaziei a caixa e iniciei um novo enchimento contabilizando os minutos. Ato contínuo, o mesmo procedimento na nova caixa. Se a caixa de 200 litros encheu em x minutos, com o total de minutos do enchimento da nova caixa, chegamos à sua capacidade aproximada.

O recurso foi a regra de três simples em que multiplicamos os extremos e dividimos pelo meio conhecido. Pelo que me recordo, a nova caixa, que era um pouco maior, teria a capacidade de 320 litros. Pelo tamanho, eu já tinha a ideia aproximada na minha cabeça, tipo de "malandragem" que usei para passar em terceiro lugar em matemática dentre mais de 300 candidatos em concurso de seleção para a Chesf em 1973. Sabendo-me quadrúpede em matemática, tapava com a mão as quatro opções de resposta, raciocinava sobre o enunciado e, depois, marcava a resposta que mais se aproximava dos meus cálculos mentais.

Eu estava decidido a optar pelo curso clássico porque o meu plano era ser advogado e a matemática do advogado quase se resume ao cálculo dos emolumentos. O plano foi estragado pelo concurso que já citamos. Acabado o curso de letras na PUC de Salvador, eu já me preparava para ir para o segundo ano da Faculdade de Direito. (Os alunos de Letras da PUC já entravam no segundo ano de Direito sem a exigência de um novo vestibular.

Eu perdi o título de doutor quando optei por apostar na Chesf. Não joguei fora, porém, a oportunidade de aprender alguma coisa de matemática no primeiro grau, o que me ajudou a desenvolver o raciocínio e resolver alguns problemas na minha vida. Valorizei o esforço do Estado da Bahia para me educar e valorizei e considerei os meus professores.

De passagem, ainda soam nos meus ouvidos, muitas vezes em atividades de sala de aula, agora como professor, "pra que inglês, pra que inglês?". Mesmo considerando que um professor de línguas termina sendo professor de vários conhecimentos, além de ser um pedagogo no encaminhamento do aluno, no treino do seu raciocínio, ainda assim nos nossos ouvidos "pra que inglês, pra que inglês?"

Como no caso da minha matemática, o inglês (bem como outra língua qualquer) pode ser de grande valia na vida de uma pessoa.

Francisco Nery Júnior 




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