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Professor Nery

A seleção de 1970

A visão de um outsider

Publicada em 18/10/23 às 23:54h - 423 visualizações

Francisco Nery Júnior


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A seleção de 1970
 (Foto: Imagens da Net)

Menino, eu era um torcedor do Esporte Clube Bahia. Vibrava com o futebol ingênuo e provinciano de Biriba e Marito, Nadinho no gol. Confiava nos truques de Osório Villas Boas, o presidente (“Dizem que eu sou inteligente. Eu vivo é da burrice dos outros”). Até que eu entendi que, no esporte, impera o capital e o lucro. O capital, ele manda. Sem o danado do dinheiro, não se faz nada e tudo visa ao lucro. O futebol é marketing, capital e lucro. “E o que não é?”, disparou o médico aposentado na nossa mesa da festa de aniversário da vizinha. 


A seleção de 1970 foi a melhor. Na minha opinião de adolescente mais ocupado em me preparar para a vida e na opinião dos apaixonados. Lá estava Gerson, o Canhotinha de Ouro, líder incontestável e estrategista de visão. O leitor já sabe que o barco é o capitão. Os jogadores só eram craques no nome. Eram, efetivamente, jogadores de futebol com suor na face e garra nos pés. Menos se incomodavam com o espetáculo. O salário, o danado do dinheiro, era uma simples consequência. Eles ganharam a Copa e trouxeram o caneco. Adicionaram à época em que sonhávamos todos com um Brasil Grande voltado para o desenvolvimento. 


Ontem, o Brasil perdeu de dois a zero para a seleção do Uruguai nas eliminatórias para a próxima Copa. Os jogadores, pra lá e pra cá, dançaram, rebolaram, seguraram a bola e se preocuparam com o espetáculo. Os uruguaios pegaram a bola, miraram a meta e ganharam o jogo. Interessante que observo, mesmo leigo e limitado, um Messi, um Cristiano Ronaldo e um Mbappé pegar a bola, partir para a frente e fazer o gol; gol que tanto alegra a torcida brasileira já sem muita esperança nas outras beiras do país. 


Os leitores, muito melhores que o cronista, começam a se enfadar. Assim, melhor pensar no encerramento. Apenas para arquivo – e garanto que não há mentira nem exagero – esta crônica já estava na minha cabeça bem antes do primeiro gol dos nossos vizinhos. Eu somente imagino o grau de irritação, mesmo consternação, do torcedor brasileiro com tanta decepção, uma atrás da outra, e o esforço hercúleo para não desistir. 


Francisco Nery Júnior 



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