O brado de Galdino
Li atentamente o lamento do professor Antônio Galdino, na Folha Sertaneja, sobre a produção de livros e publicações na nossa cidade; pungente, comovente e com poder de contágio. Na esperança de somar e agregar valor para melhor, enviei comentário que se inicia no parágrafo seguinte.
Acompanho e louvo a sua pregação. caro amigo, colega e editor-chefe. Não vou dizer que feliz é a cidade onde os seus gestores são pessoas de visão. Estive em Salvador por um mês em um apartamento e, por força disso, danei a ler Proust, num francês basilar e gostoso, tentando beber o seu estilo e entender as suas mensagens embutidas. Um dia qualquer, pegamos um Uber, Ângela e eu, e fomos ouvir um concerto pela Orquestra Sinfônica da Bahia nada menos que na dourada barroca Igreja de São Francisco no encantador Terreiro de Jesus. Voltamos para casa de alma cheia e espírito leve - como soe acontecer quando comemos e bebemos do melhor.
Então pregou na minha cabeça lançar a ideia de algo semelhante em Paulo Afonso na esperança de ser ouvido e entendido por quem de direito com ouvidos educados para ouvir; alguém que entenda que cultura não é gasto, mas investimento.
Não temos a potência encantadora de um Terreiro de Jesus bem no alto do Pelourinho, mas temos um Centro Cultural Raso da Catarina e um Complexo Lindinalva Cabral além do Parque Belvedere e do encantador Parque Balneário Abelardo Wanderley.
Já tivemos algo semelhante. A Orquestra Sinfônica da Universidade Federal da Bahia já se apresentou no espaço em frente à Catedral Nossa Senhora de Fátima. A recepção do nosso povo foi esplendorosa e tocante. O pessoal, servido por um repasto de música de qualidade, música clássica, deu um show de educação e civilidade até, no final, de pé, irromper em aplausos efusivos de agradecimento.
De Ariano Suassuna, ouvimos que cachorro não gosta de osso. Cachorro gosta mesmo é de filé. É só oferecer para verificar a justeza da afirmação do grande mestre. Nós, o povão, desprezamos os ruídos e a zoada e preferimos a música de qualidade, contanto que sejamos servidos.
Jean Jacques Rousseau uma vez afirmou que o ideal seria o povo ser governado por um déspota esclarecido. No nosso caso, poder ter sido a vinda de Dom João VI, o reinado de Pedro I e a ditadura de Getúlio Vargas.
Felizes de nós se tivermos gestores esclarecidos.
Francisco Nery Júnior
Esse é o nosso Nery, magistral na escrita, erudito, eu viajo nos seus textos, caro amigo e confrade. Sua provocação é pertinente, cabe-nos, como acadêmicos, procurar meios para viabilizar encontros de cultura e arte, certo, fique, que suas ideias serão consideradas e, dentro do possível, concretizadas de alguma forma.