Ele é o capanga de confiança do poderoso do pedaço. É o Ramiro da novela das oito da Rede Globo. É sincero no que faz e o resultado da sua formação. Não considerado ou valorizado pelo patrão, ainda assim a lealdade canina. Como sempre há alguém por perto na caminhada de todos nós a quem podemos recorrer, Kelvin, companheiro pouco provável, vai comendo pelas beiradas a despertar o brutamontes Ramiro para o seu valor como ser humano, eventual diamante não lapidado.
No meio do processo de valorização e conversão trabalhado por Kelvin, ele resolve desobedecer ao patrão, assume-se dono do seu nariz e toma a decisão de devolver a liberdade às duas reféns mantidas em cativeiro pelo latifundiário cruel dono do império La Selva.
Descoberta a traição, Ramiro cai em desgraça e leva uma sova ordenada por Antônio, o empresário desalmado que só pensa em lucro e expansão, e é descartado para morrer à beira de uma estrada poeirenta de acesso a uma das fazendas do poderoso.
Kelvin, responsavelmente ligado na evolução do processo de libertação de Ramiro, percebe a sua ausência e tenta a todo custo manter contato por celular. Após sucessivas tentativas, percebe, ao longe, o ofegante pupilo a rogar: “Kelvin, ajuda eu!”.
Num português rudimentar, despido das regras cultas, a massa inculta e imponente de quase dois metros, o Ramiro jagunço pejado de medos e preconceitos apela, sorrateiramente, quase sem ânimo, para o diminuto e leve Kelvin.
A reação samaritana e responsável do companheiro confiável se fez notar. Como a galinha empoderada a enfrentar todos os ataques à sua ninhada, ele veste a couraça da justiça e do amor ao próximo e parte para o resgate de Ramiro.
Kelvin procura a Polícia! Ele não tenta arregimentar um exército de cruzados para o resgate do amigo. Dentro da lei e da ordem, ele apela para o polícia, justa representante do poder do Estado. Ele vê no Estado o conciliador do esforço e da iniciativa do setor privado. O Estado fundamental em uma nação regida e alicerçada nos princípios liberais. Sem estado, baderna, injustiças, guerras e dissenções.
Ramiro foi resgatado e jaz em um hospital em processo de recuperação física. A novela prossegue na trama e nas injunções que, esperamos, nos conduzirão à conclusão que uma nação forte e desenvolvida é aquela onde os princípios liberais são respeitados e onde os cidadãos têm a oportunidade de se encontrar e se desenvolver.