Lá, bem no meio da Avenida de Contorno, sem atrapalhar ninguém, sem ser inconveniente, ele estava lá. É meio de caminho entre a minha casa e a casa da sogra. Pequenino ainda, cambaleante talvez, lutava pela vida. Alguém o plantou. Não fui eu. Plantou e dele se esqueceu.
Passei e percebi. Eu o vi e dele me tornei amigo. Considerei a vida exuberante que poderia ter. Cuidado e amado, certamente exultaria. Olhei, até conversei um pouco com ele, sem resposta oral evidentemente, e nos tornamos amigos. Não o abracei, mesmo não o beijei, pelo seu tamanho. O que fiz foi tentar crescer com ele. Ele viria a ser exuberante. Seria agradecido e retribuiria, não somente a mim, mas a todos os carentes, com cargas sucessivas de tamarindos a perder de conta.
Sucessivamente lhe adicionei compostagem que lhe fortaleceu a cepa. Tratei de livrá-lo de empecilhos inconvenientes nos seus arredores. Reagiu e cresceu. Retribuiu com gosto o amor recebido.
A primeira carga chegou. Amor concedido nunca é perdido. Está lá para quem quiser ver e se beneficiar. Continuo com a amizade. Não importam olhares de desprezo ou desconfiança. Não interferem as incompreensões que existem por incrível que pareça. A nossa amizade subirá ao infinito. Permanecerá para sempre.
Temos outras amizades na cidade como a do nosso tamarindeiro. Ele é apenas um marco e a motivação para a nossa crônica de hoje. Segue uma foto já no fim da safra e, a propósito, trecho do espetacular texto do cajueiro de Humberto de Campos.
“Aos treze anos da minha idade, e três da sua, separamo-nos, o meu cajueiro e eu. Embarco para o Maranhão, e ele fica. Na hora, porém, de deixar a casa, vou levar-lhe o meu adeus.
Abraçando-me ao seu tronco, aperto-o de encontro ao meu peito. A resina transparente e cheirosa corre-lhe do caule ferido. Na ponta dos ramos mais altos abotoam os primeiros cachos de flores miúdas e arroxeadas como pequeninas unhas de crianças com frio.
– Adeus, meu cajueiro! Até a volta!
Ele não diz nada, e eu me vou embora.
Da esquina da rua, olho ainda, por cima da cerca, a sua folha mais alta, pequenino lenço verde agitado em despedida. E estou em São Luís, homem-menino, lutando pela vida, enrijando o corpo no trabalho bruto e fortalecendo a alma no sofrimento, quando recebo uma comprida lata de folha acompanhando uma carta de minha mãe:
“Receberás com esta uma pequena lata de doce de caju, em calda. São os primeiros cajus do teu cajueiro.
São deliciosos, e ele te manda lembranças…”
Francisco Nery Júnior
P.S. Quem sabe um dia chegará em minha casa um pote de doce de tamarindo com lembranças inefáveis do meu amigo tamarindeiro?!
E quem plantou um cajueiro logo após o tamarineiro?
Tem varias árvore morrendo. E a prefeitura não faz nada. VERGONHA
Quero experimentar, não dispenso mais e espero com pressa a muda prometida, caro Vicente Damasceno. Manterei contato. Abrs.
Nobre escritor, o meu abraço, dizer ao mestre que plantei esse tamarindo depois de saborear alguns que recebi vindos de Teresina, frutos de um pé que o meu irmão tem no sítio e que o mesmo é doce, diferente dos demais e que se quiser experimentar ainda tenho e estou aguardando chegar mais e se quiser uma muda também tenho. Abs