O dia foi o penúltimo do ano de 1975. Na cama de um hospital, aos 74 anos de idade, em uma noite densa e pesada, eu ao seu lado, ele deu o último suspiro. Partiu, ele o meu pai, para uma jornada leve, fácil e triunfal. Entrou para a Eternidade.
Embora cioso das coisas que não se veem, em toda a vida ele cioso, nenhum sinal aparente. Prestei bem atenção, mas nada vi. Por miopia, falta de merecimento ou pequenez; limitação, nada vi. Nada percebi.
Dia seguinte ao funeral, um sonho. Foi um sonho. Embora claro e preciso, convincente, apenas um sonho. De repente acordei e tinha tido um sonho. Entre três dos seus amigos burocratas, os quatro de paletó e gravata (ele tinha sido um burocrata duas vezes, estadual e federal), um ousou perguntar como tinha sido o que no meu sonho eu tinha percebido como a sua entrada na Eternidade. “Nada, bastou este escudo aqui”, respondeu apontando para um escudo na lapela, tipo botão, daqueles usados pelos senhores deputados quando de terno e gravata.
Como era e o que levava escrito, ilustração, cor e feitura, não sei dizer. Apenas me lembro do ar de vitória e de alívio ante a realidade do porvir estampado na sua face.
Francisco Nery Júnior
Nas idas e vindas da sua caminhada final, entre lucidez e neblina no leito derradeiro, "Que beleza, que brancura! São as primícias!", ouviu dele a minha irmã mais velha. Junto ao anterior, vai este adendo.
Muitas vezes não nos despedimos ,ou expressamos nosso sentimento de perda, dos nossos entes,e, os sonhos nos trazem alguma mensagem
Acordei, de noite, com um grito da esposa tendo um pesadelo. Eu estava sonhando com um tio por parte de mãe a se despedir; a mesma cena do sonho do meu pai, só que sem nenhuma fala. Isto aconteceu anos depois no dia em que o meu tio morreu em São Paulo. Interessante que a esposa declarou que não não teve nenhum pesadelo e que não se lembrava de ter gritado.