Há pouco tempo, precisei resolver alguma coisa em um nosso imóvel na Avenida Getúlio Vargas. Me dirigi à Coelba e fui muito bem tratado. Não só por já ser um "idoso". O que realmente contou foi eu ter me identificado como ex-funcionário da empresa. Meu primeiro emprego foi na Coelba, na Neoenergia Coelba. O nome era Companhia Energia Elétrica da Bahia, os cálculos para pagamento eram feitos no lápis ou na mão, poucas vezes com um arremedo de calculadora com manivela e o nosso pagamento era levado mensalmente em envelopes lacrados conduzidos por um colega da Tesouraria já com um pé na aposentadoria.
A minha secção era Folhas de Pagamento, no prédio clássico imponente da Praça da Sé. Eu havia terminado o serviço militar - os militares têm princípios muito importantes para nos passar - e precisava trabalhar. O velho havia proposto me levar até o fim da faculdade, mas preferi trabalhar por três anos e juntar o dinheiro necessário para pagar o curso da PUC de Salvador.
Fui ao setor de seleção e, dentro de uma semana, estava entre catorze marmanjos como funcionário da atual Coelba: o chefe Arquibaldo, seus auxiliares Florisvaldo e Tosta e os auxiliares de escritório Damasceno, Paulo, Rodrigo Veloso (irmão de Caetano), Pereira, Carlos Alberto, Baroni, Mário Brandão, Francisco, Humberto, Mota e Josué. Estudar para a seleção, como estudar para os concursos onde fui bem sucedido, eu estudava todos os dias na escola e nas horas vagas - todos os dias!
Primeiro dia na presença do chefe. de paletó e gravata (o velho Francisco Nery orgulhosamente havia me levado ao alfaiate para meu primeiro terno de adulto), o senhor Archibaldo, olhos fixos para mim, dispara: "Vou lhe colocar na carteira de controle de seguro de vida, o mais difícil da secção. Não sei por quê. Repito, não sei por quê, mas acho que você dá para o serviço". Assumi a carteira. Morrendo de medo, mas assumi.
Final do primeiro mês, fechamento da folha de pagamento da empresa, como sempre uma diferença. Correram todos para a minha mesa. Claro, a diferença só poderia estar na contabilidade do novato. Rodaram os papéis e conferiram o meu serviço. Estava tudo correto.
Mas veio o segundo mês. Havia uma diferença. Ainda poderia ter sido um erro do meio novato. Novamente o monte dos veteranos ao redor da minha mesa a me oprimir. Era uma opressão. Para mim, era. Tudo rebuscado e tudo perfeito. E foram procurar a diferença em outro canto.
E então o terceiro mês e o fechamento geral da folha. Havia diferença. Não vieram, porém, para a minha mesa. Ficaram-se por lá a providenciar o ajuste necessário. E assim sucessivamente até que deixei a companhia um ano e meses depois. O salário era irrisório na época e eu precisava decolar com as asas que acreditava ter. Assim provoquei a minha saída.
Todos aqueles colegas relacionados acima foram meus amigos e me ensinaram a trabalhar. Mesmo diria que meu chefe Archibaldo me tolerou mais do que deveria. Para o bem ou para o mal, um jovem submetido a um regime de educação e ensino correto, podemos dizer, não se contém no vale. Ele sempre visará os cumes dos montes.
Em 2024, início do mês de fevereiro, cinquenta e seis anos após a primeira subida em 1967, subi novamente a clássica escadaria do prédio da Neoenergia Coelba na Praça da Sé. Ao lado, o elevador original que também usávamos para os andares superiores. No primeiro andar da antiga contabilidade da Companhia Energia Elétrica da Bahia, a visita, pelo que pude entender, a um museu [de energia]. Visitei os stands, acompanhei algumas exposições e participei de alguns experimentos que presumo ter o objetivo de esclarecer, de alguma maneira, o que é e como pode ser utilizada a eletricidade.
Claro que experimentei muita emoção. Não chorei - na verdade segurei o choro -, mas senti muitos calafrios. Além dos [poucos] cabelos em pé em uma cabine de experimentação, a emoção de estar revivendo a partida da minha caminhada no mercado de trabalho.
Resta agradecer, de coração, a oportunidade propiciada pela Neoenergia Coelba, eu que bem poderia ser uma peça viva do museu, com a recomendação de os leitores, quando em Salvador, fazerem uma visita ao museu cuja finalidade adicional deve ter sido a preservação da memória da produção e da distribuição da energia elétrica na Bahia.
Francisco Nery Júnior
Na foto, um painel ao lado, eu, de pé, bem no local do meu birô em 1967. Ufa!