Elas deliciam a galera. O esforço é pequeno para que muitos nelas creiam. As narrativas, quer tenham sabor literário, quer venham pejadas de nostalgia; confortem ou encantem – são muito bem-vindas. Florescem, tornam-se, muitas vezes, verdades absolutas e – se consolidam. Por exemplo, “Faze a tua parte que eu te ajudarei”, repetida e passada adiante, não é encontrada em nenhum lugar da bíblia.
Em referência à maioria dos políticos, os pobres eleitores adoram se drogar com o canto mavioso da sereia. E grosseiramente entram pelo cano. Espoliados, navegam nas narrativas dos malandros. Mesmo corroboram a sua construção. Ainda ontem, um vizinho me instou a votar num determinado candidato para “defender o nosso bairro”. Ele teria tido sucesso se me tivesse convidado para colocar na Câmara Municipal alguém de visão ampla com consciência que o fundamental é a luta pelo desenvolvimento global do município; a tal da visão do todo onde todos ganham.
Consequentemente, vem à mente o pastor Hercílio Arandas a nos alertar que as ideias as mais estapafúrdias que apareçam sempre encontrarão seguidores e o filósofo Eric Emmanuel Schmitt a grafar que “Depois que as nossas sociedades não creem mais em Deus, elas creem não importa em quê”.
O Brasil, compartimentalizado e dividido como está, continuará eternamente estagnado. Uma olhadinha na História Nacional poderia convencer os nossos políticos eleitos que o desenvolvimento do nosso país é factível. É possível nos desenvolvermos e sermos felizes; nos tornarmos felizes na linguagem do professor Carlos Lessa.
E a mídia corrobora o embuste. Passa e repassa bobagens inadmissíveis num país enrolado há muito tempo e à beira da quebradeira. Ainda ontem ouvimos do senhor Ministro das Minas e Energia que o cobertor é curto – para justificar o arrancar de impostos constante e crescente dos nossos bolsos quase que apenas para as mordomias dos poderosos e para o pagamento do serviço da dívida [interna]. Não nos anima trabalhar no Brasil. Não compensa. E a coisa ainda não degringolou por completo por causa dos que teimam em ser teimosos.
E a mídia ajuda. Como desejamos ser diferentes neste site, aqui escrevemos. A loteria tal oferece um alto e obsequioso prêmio (digamos cinco milhões de reais) para o “jornalista”, saltitante, ufano e gaiato – de fato despreparado para informar – aguçar a cobiça do apostador: “Colocando esse montante na poupança, o ganhador terá uma renda mensal de tantos reais”.
Embuste total. Crueldade talvez. Jogo dos detentores do capital sujo, poder ser. O leitor faça um teste e verá que o montante final de um capital correspondente à compra de um carro novo popular retirado de uma poupança será capaz, apenas, de comprar um carro novo popular na data da retirada. Se for capaz!
Mastigando, suponhamos que um carro zero custe ao comprador oitenta mil reais. Ele coloca este montante na poupança e após, digamos, cinco anos, retira cento e vinte mil reais. Ele vai a uma concessionária e verifica que o valor do carro zero é de cento e vinte mil reais. Em outras palavras, ele não ganhou nada. Poupança básica, a famosa Caderneta de Poupança, muito mal mantém o valor aquisitivo. Simples assim. Alguém malandramente ganhou dinheiro com o capital do investidor.
Uma minha irmã vendeu tudo que herdou do marido classe média alta e foi viver de poupança. Como demonstrado, apenas “queimou” o seu capital e hoje vive com um salário mínimo concedido aos idosos brasileiros pelo governo. A minha madrinha, também despreparada, vendeu uma boa casa e comprou uma inferior. Colocou a diferença na poupança, ia mensalmente retirando a “renda” e, em pouco tempo, com o capital residual, conseguiu comprar um quilo de picanha.
Então, sem nenhuma presunção de superioridade, é o que nos comprometemos a passar para os nossos leitores.
Francisco Nery Júnior