Falar aos jovens – eu já fui jovem – só funciona se você não falar aos jovens. Assim são eles e assim permanecerão. Para algum efeito, importa falar “ao vento”, assegurado que eles ouçam, isto é, que os jovens ouçam.

O secretário da fazenda do Estado da Bahia, Rubem Tabacoff, eu adolescente, nos meus dezessete anos, afirmou que “quem gasta tudo o que ganha nunca vai pra frente”. Ouvi, guardei e me dei bem. Meu irmão e eu começamos a fumar. Meus pais nos advertiram que fumar causa câncer nos pulmões. Desisti do cigarro. Meu irmão, aos 62 anos de idade, morreu de um câncer nos pulmões. Meus pais ainda incutiram nos meus ouvidos que as más companhias corrompem os bons costumes. Na escola, eu procurava os bons companheiros, os que eu considerava à minha frente, e com eles muito aprendi. Nas minhas construções, muita gente boa e sábia entre pedreiros e ajudantes, ouvia que “onde há cachaça, o cão está no meio”. Fugi da cachaça. O cão, definitivamente, não é bom companheiro.

Ontem, quase véspera do São João, tive que ir à Feira Grande para uma tarefa qualquer. Tenho que repartir com os leitores que ao andar por vielas, passando por beiras, bancas e boxes com muito “som” e “alegria”, o meu espírito se encheu de tristeza e, permita-me o leitor, compaixão.

Assim decidi jogar ao vento, traduzindo do francês e fazendo algumas adaptações, o belo texto que segue:

“Eu gostaria de ser bem-sucedido na vida”, disse um adolescente. Certamente é o que você, leitor jovem, também quer. Mas como vencer na vida? Os meios de comunicação, os colegas, talvez mesmo os professores, lhe dirão o que fazer para ganhar um bocado de dinheiro ou iniciar uma brilhante carreira. Em suma, ser alguém na vida.

Ao contrário, é bom considerar que a busca do sucesso material não é senão uma caça ao vento. Para início de conversa, poucas pessoas se tornam ricas e famosas. E as que se tornam sempre se descobrem terrivelmente decepcionadas. “É como uma caixa vazia”, observa um jovem inglês que cursou uma universidade de prestígio. “A gente considera e verifica que não há nada no interior.” Evidente que uma carreira pode, às vezes, trazer riqueza e notoriedade. Mas ela não torna ninguém rico espiritualmente. Ademais, “o mundo passa”. Mesmo sendo bem-sucedido neste mundo, o sucesso é de curta duração.

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Retomo o fio da meada e, para consolo dos jovens – talvez para melhor me nivelar com eles –, confesso que deixei de captar no vento muita coisa que teria feito da minha vida uma empreitada muito melhor, para mim e para os meus semelhantes.

Lá na frente, algum jovem quiçá se lembrará de mim, como eu agora a me lembrar dos meus pais, de Rubem Tabacoff e dos meus caros amigos das minhas obras.

Francisco Nery Júnior