O nosso primeiro contato mais direto foi na Rua da Frente ao lado, pelo que me lembro, de um bar tipo cabana de palha com o título de Tô à Toa. Ele estava com Nemias, aluno do Colepa interessado em inglês. Conversavam e eu cheguei à procura de um lugar para merendar.

Nemias, mais efusivo, falava pelos cotovelos. Entabulava a boa conversa, diga-se de passagem. Marcondes, mais calado e ladino, dava pitacos igualmente interessantes. O olhar era cabreiro como a deixar claro que o santo queria reza e se preparava, desde então, para missas mais proveitosas. Em outras palavras, parecia, desde já, saber o que queria. Esta a minha impressão. De passagem, Lee Iacocca, ex-presidente da Ford e salvador da Chrysler, afirmou, nas suas memórias, que os participantes mais calados em uma reunião de empresa são os verdadeiros detentores do poder.

Alguns anos se passaram e o segundo encontro foi na Igreja Batista Central. Marcondes mais maduro e mais proativo. Olhar fixo no futuro. Comentários e posições bem pensados. Ele era uma figura sempre presente e sempre pronto a ganhar terreno.

Fomos caminhando nas lides eclesiásticas e logo Marcondes assumiu o púlpito da igreja, não sei se já funcionário do Banco do Brasil. Ele demonstrava pleno fervor nas nossas reuniões, principalmente as de oração. Ainda me lembra o seu bordão enfático de acompanhamento das orações de nós outros seus irmãos: “É verdade, é verdade!”.

Entre nós, o irmão Pedro Barbosa, ultrazeloso vigilante das doutrinas e dos dogmas batistas. Ainda me lembra uma quinta-feira de culto de oração. Fui de bermuda. Paulo Afonso uma cidade quente, os ingleses usavam bermudas nas colônias britânicas da África e, principal base lógica da minha decisão, as mulheres sempre usaram bermudas nas nossas igrejas; bermudas e saias ainda mais curtas que as bermudas. Fui de bermuda para o meu querido, sincero, zeloso e comprometido irmão Pedro, um pouco mais tarde meu padrinho de casamento, se incomodar e bradar a sua ira.

Em entendi perfeitamente a reação do meu irmão e nunca mais fui de bermuda para as reuniões da igreja. Não carecia, assim concluí, continuar a usar bermudas nas nossas reuniões de meio de semana se o uso escandalizava o irmão. Já no caso do irmão Marcondes, a implicação foi o seu bordão já do conhecimento dos leitores: “Agora me inventaram esse negócio de é verdade, é verdade!”

Pedro Barbosa foi um fiel servo de Deus, um grande amigo e uma ovelha que faz falta no rebanho. A sua presença em todas as nossas reuniões era garantia de seriedade e comprometimento. A Covid-19 finalmente o ceifou nos seus cento e dois anos.

O que Marcondes defendeu naquele dia no púlpito da Central foi a participação dos evangélicos na política. Deu o máximo de si na apresentação da sua tese. Premonição ou profecia, candidatou-se a vereador, conquistou o mandato e permaneceu na Câmara Municipal por mais de trinta anos até se tornar vice-prefeito na chapa de Luiz de Deus.

Hoje, 21 de agosto de 2024, foi empossado como prefeito de Paulo Afonso em solenidade na Câmara Municipal por força da renúncia do prefeito Luiz de Deus. De prefeito interino por mais de um ano, para a plena função de titular da Prefeitura Municipal.

Só nos resta desejar sucesso ao nosso prefeito na condução dos negócios municipais, visão e tino administrativo. Senso de justiça, humildade e paciência, muita paciência. As nossas orações, mandamento bíblico, vão nesse sentido.

Francisco Nery Júnior