Santa Dulce dos pobres e os candidatos
Francisco Nery Júnior
Há uma semelhança fundamental. Eles são humildes, Santa Dulce e os candidatos das próximas eleições. Misturam-se com os pobres, apertam as mãos e falam o vocabulário dos menos privilegiados da sociedade. Nada de termos como verbas, conluios, acertos, emendas, narrativas e mordomias. Nem pensar em emendas de relator. Muito menos auxílio paletó, primo rico do auxílio “módice”.
Conheci Irmã Dulce em Salvador. Tinha o ar súplice, como os candidatos. Era simples e batia nas portas, como os candidatos. Pedia esmolas e se humilhava, como os candidatos. Muitas, muitas vezes enfrentava caras feias, como os candidatos. Era, para alguns, o terror do dia a dia. Lá vem Irmã Dulce e o corre-corre para se esconder. Um deles, um dos beneméritos de araque, embaixo do birô com uma pasta na cabeça e a secretária a negar – para a freira auxiliar de Irmã Dulce – a sua presença.
A freirinha simpática e frágil tornou-se a primeira santa da Bahia. De um galinheiro de quintal, para o panteão dos santos da Igreja Católica. Alguns milagres já lhe são atribuídos.
E os candidatos, políticos e postulantes, assim também fazem de tudo para o salto em direção da corriola dos apaniguados da política brasileira. Assim Bruno Reis mergulha os pés nas águas pútridas de um vale de Salvador. Em Paulo Afonso, o prefeito Marcondes carrega nos ombros os componentes dos andaimes para a Copa Vela. Belo exemplo. Getúlio Vargas desprezava as mordomias. Ia a pé para o local de trabalho no Rio de Janeiro sem escolta privada. Juscelino arriscava a vida em aviões sem sofisticações e sujava as botas de lama na construção de Brasília. Os seus engenheiros mergulhavam no esforço de construção da nova capital federal. Um deles, Bernardo Sayão, morreu em uma operação de limpeza de um terreno. A árvore caiu em cima dele que se descuidou.
Talvez todos sejamos santos. Santos pequeninos com a nossa contribuição para o desenvolvimento do Brasil. Irmã Dulce, Getúlio e Juscelino, santos inegáveis de primeira hora. Não foram santos de hora marcada; prazo restrito e limitado.
Não estou sabendo encerrar, caro leitor. O que poderia realmente desejar é uma de fato proteção, tipo uma vacinação, contra a amnésia que costuma atacar os candidatos após as eleições. Eles, ao contrário de Irmã Dulce, se esquecem das promessas e da peregrinação e se esbaldam nas mordomias. Nós outros, nós que nos viremos para sobreviver.
Francisco Nery Júnior
Verdade Imortal. Como a mente de muitos brasileiros é fraca! Ou será que não é fraqueza da mente ? Então, vou deixar sem citação, para não ferir o brilho dos que aparecem no período de campanha eleitoral. Neste fraca, caráter doentio