Lições para o próximo prefeito
Não são lições, embora o autor esteja autorizado pelo MEC (Ministério da Educação) a dar aulas. Como se atreveria a dar aulas a um novo prefeito se breve vai chamar a atenção para a simplicidade de um Gandhi, um Mandela e um Getúlio Vargas? O que aqui aparecerá será uma simples conversa.
Para ser bem sucedido, o prefeito eleito depois de amanhã deverá se apegar a princípios fundamentais para bem se desincumbir da administração da cidade. Para não se perder, como já aconteceu na história de Paulo Afonso, fundamental bem assimilar o conceito de justiça social. Poderíamos iniciar com a declaração de Getúlio Vargas: “A finalidade do Estado é promover a justiça social. Mas não há justiça social sem desenvolvimento.” Se compararmos a casa de um brasileiro comum da década de 1930 ou 1940 com a de um brasileiro atual, concluiremos que Getúlio estava certo.
Para bem corroborar a afirmação do ex-presidente, trilhar o caminho da mansidão. Assumir o rompante de Adolf Hitler, que reduziu a Alemanha a cinzas; desprezar os infiéis, segurando os povos árabes que já foram grandes no passado; só acarretaria estagnação para a cidade.
Ao contrário, considerar a resistência pacífica de Mahatma Gandhi em relação à independência da Índia, o espírito de conciliação de Nelson Mandela que evitou um banho de sangue na África do Sul no episódio do apartheid ou mesmo a nobreza de Dom Pedro I em relação ao seu irmão Dom Miguel vencido na guerra civil que o tornou Dom Pedro IV em Portugal (os vencedores chegaram a hostilizar Dom Pedro querendo vingança). A paz social é fundamental para a cooptação de todos no esforço do desenvolvimento. Os mansos, sobretudo, “herdarão a terra”.
A começar com Getúlio, o Brasil cresceu em média 7% ao ano durante cinquenta anos, fato raro no mundo. A Índia de Gandhi manda missões à lua e a África do Sul é um dos BRICS em pleno desenvolvimento.
Se já não é o bastante, vale lembrar o grande salto para a frente da China de Deng Hsiao Ping (que persistiu apesar das humilhações terríveis a que foi submetido) estancada nas narrativas de Mao Tsé Tung talvez inevitáveis ou necessárias para romper os grilhões que amarravam a China secular.
A propósito de Jean Jacques Rousseau ter afirmado que o ideal para um povo seria que ele fosse governado por um déspota esclarecido, rubrica que pode encerrar Alexandre o Grande, Júlio César, Dom Pedro II, Bismarck, Getúlio Vargas, Churchill ou De Gaulle, importa ao novo prefeito procurar se esclarecer (acercar-se de bons assessores).
Jânio Quadros, confrontado ao fato de ter Afonso Arinos como um competente chanceler responsável por uma política externa acertada, retrucou que “eu sempre escolhi os melhores”, relegando o seu interlocutor ao nada. Antônio Carlos Magalhães – que também só escolhia os melhores - enfatizou que “é preciso saber cobrar”.
No Maranhão, Edson Lobão fez um bom governo. Assim que eleito, perguntou a Tasso Jereissati a razão de ter feito um bom governo no Ceará. Tasso lhe respondeu que ele tinha convocado dois secretários comprovadamente competentes para as duas secretarias-chave. Lobão foi atrás dos dois e teve sucesso no Maranhão.
Melhor de tudo, saber que o pior inimigo é, algumas vezes, o portador de boas novas e incentivos. Assim sendo, um jovem promissor ouviu do seu primeiro chefe que “o seu ‘porventura’ o levará longe!” enquanto que o seu pior carrasco, implacável e mesquinho, pensou alto “quem sabe se esse rapaz [o uso de ‘rapaz’ em tom denegridor] um dia será útil em Paulo Afonso?”
De resto, que cada um de nós assuma a responsabilidade de fazer a sua parte casando seus direitos com seus deveres.
Francisco Nery Júnior
