Sobre o termo “cônjuge” e ir a casamentos

Nunca me refiro à minha parceira como minha esposa. Prefiro minha mulher. O termo é mais doce, mais coloquial, mais durável. O uso de cônjuge, pior ainda. Também perdi o gosto de ir a casamentos. Não gosto. Parece irreal – atualmente com uma ponta de falta de consistência.

Não gosto de ir a casamentos pensando encontrar um dos noivos algum tempo depois e não poder perguntar pelo outro nubente. Medo de dar um fora. Um desconcertante fora!

“Ah, mas que sujeito chato sou eu” (Raul Seixas) ... e me deparo com Rubem Braga lá em setembro de 1957. O que vai abaixo é dele, de Rubem Braga, grafado em “100 crônicas escolhidas”, compilação por Gustavo Henrique Tuna:

Chega a notícia que um casal de estrangeiros, nosso amigo, está se separando. Mais um! É tanta separação que um amigo meu, que foi outro dia a um casamento grã-fino, me disse que, na hora de cumprimentar a noiva, teve a vontade idiota de lhe desejar felicidades “pelo seu primeiro casamento”.

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“Adultério” devia ser considerado palavra feia, já não digo pelo que exprime, mas porque é uma palavra feia. “Concubina” também. “Concubinagem” devia ser simplesmente riscada do dicionário; é horrível.

Mas do lado legal está a pior palavra: “cônjuge”. No dia em que uma mulher descobre que o homem, pelo simples fato de ser seu marido, é seu “cônjuge”, coitado dele.

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Mas no meio de tudo isso, fora disso, através disso, apesar disso tudo - há o amor. Ele é como a lua, resiste a todos os sonetos e abençoa todos os pântanos.

Francisco Nery Júnior