Uma simples questão de honra
Francisco Nery Júnior
O nome dele é Jucélio. Jucélio Alves de Araújo. Estava na Rádio Bahia Nordeste à procura do comunicador Tiago Nascimento. Estava, na realidade, na luta pela sobrevivência em um intervalo de quebra de contrato com a firma empregadora. Estava, leitor, na pior.
Vera Onilde e este autor acertavam a pauta de uma entrevista para o dia seguinte. Jucélio atento, bem ao lado, se dobrou e pegou uma moeda de real que jazia inerte no chão e a entregou a Vera. Poderia tê-la enfiado no bolso. A sua situação justificaria o ato. Poderia, quem sabe, lhe comprar um pão para levar para casa. Não o fez e preferiu ser honesto. Devolveu a moeda a quem ele supôs ser a legítima dona.
Desta vez, o ato singular do nosso personagem lhe proporcionou muitas outras moedas no bolso como na multiplicação dos pães e dos peixes do garoto da passagem bíblica. Na volta para casa, no bolso de seu Jucélio, o suficiente para comprar alguns pães. Na hipótese de isto não ter acontecido, certamente o Deus onipresente teria dado outro jeito. No mínimo, um aumento da sua capacidade de aguentar as vicissitudes da situação; uma brisa de esperança ou um orvalho sustentador. Talvez o envio de um samaritano mais pródigo para a compra de mais pães.
Enquanto isso, nas instâncias dos poderes da República, os marajás da vida se locupletam de mordomias várias e indecentes, de todas as origens, que emperram o desenvolvimento do Brasil e, quem sabe, poderiam mitigar um pouco a dor e a fome dos necessitados.