Meu melhor presente de Natal

 Francisco Nery Júnior   

De Ano Novo se o leitor preferir. O encanto ainda era o do Natal de Papai Noel. Não que fosse um encanto para nós outros. Uma bola colorida tirada do saco de um velhinho barbudo nunca nos encantou. O leitor vá nos desculpando, mas, para mim, não passava de uma babaquice. O melhor presente de Natal do nosso pai, não trazido por Papai Noel evidentemente, era a comida constante na mesa e o incentivo renitente e cotidiano à fé no Cristo Redentor do Natal e aos estudos.

O melhor presente que recebi? Vamos lá: Eu acabara de entrar no ginásio Manoel Devoto e bati de frente com a colossal competência da professora Maria Magalhães. Apaixonei-me pela língua inglesa e dava tudo de mim para aprendê-la. Meu pai, que não vacilava na vigilância do futuro do filho da rabada, não contou conversa. Ele deixou, em uma das suas noitadas de insônia, ao lado de um aquário que eu cultivava, um bolo de dinheiro (ainda não existia o PIX) com uma inscrição: “Para pagar um curso de inglês”.

Corri sem perda de tempo para o ACBEU, Associação Cultural Brasil Estados Unidos, escola de inglês da elite da Bahia, e procurei compensar o meu pai com o meu aproveitamento. No meio dos bacanas, eu exultava. Eu tinha que tirar proveito não de um presente fortuito qualquer presumidamente trazido por Papai Noel. O presente era do meu PAI! Significava a segurança para um futuro sem vicissitudes.

Terminado o primeiro semestre, o retorno para um velho sorridente e recompensado. A professora Stella, na apresentação da avaliação final, declarou: “O resultado já era esperado. O primeiro lugar foi o de Francisco Nery Júnior”. O nivelamento por baixo ainda não estava na moda.

Em 1974, tentei oferecer aos meus alunos do Colepa o que as minhas professoras Maria Magalhães e Stella haviam me proporcionado apenas para ouvir comentários desanimadores. Para mim, os alunos da periferia do Acampamento, muitos “da Baixa da Égua”, eram iguaizinhos aos meus primeiros colegas do ACBEU. Mas isso é outra conversa...