Parlamentarismo tupiniquim [no Brasil]

Golpe de misericórdia no presidencialismo

Francisco Nery Júnior

 O esporte nacional, segundo um cientista político, é o futebol e falar dos políticos. Se eles ontem, primeiro de fevereiro, em acordão passaram o comando do Congresso Nacional para o senador Davi Alcolumbre, o filho do mecânico judeu, e para e deputado Hugo Motta, o médico paraibano, em conclusão a um conchavo nas palavras do senador Girão; então, e data vênia, falemos deles.

A sessão poderia se realizar na segunda-feira, dia 03, seguindo os trabalhos até o final da semana. Os custos foram, como sempre na corte Brasília, desnecessários como explicitado pelo deputado Palumbo.

Os nossos representantes bailam e dançam, brincam com o destino do Brasil, enquanto o abismo se aproxima – o que deixa, como a nós outros, o senador Ariovisto de boca aberta. Em suma, os pagadores de impostos somos nós outros. Se realmente vier na enxurrada o imposto da feiura, coitados de nós. E os nossos representantes de peito aberto se arvoram na gerência do orçamento (cada senador dispões de 60 a 70 milhões de reais por ano para conquistar votos nas suas bases e se perpetuar no poder quase ao seu bel prazer.

E o novo secretário de comunicação do Governo, segundo o senador Humberto Costa, ladinamente pouco comunica. Para ele, o melhor comunicador é Lula que parece fenecer e dissecar nas catacumbas dos esplêndidos palácios projetados por Oscar Niemeyer. A poção do velho bruxo vai expirando a validade.

O discurso de posse do senador Alcolumbre autoriza o que acabamos de descrever. Ele afirma não buscar o protagonismo embora tenha costurado o “amplo respaldo político” que resultou nos 73 votos em seu favor dos 81 senadores. Em suma, assistimos a um virtual agigantamento do Parlamento. Segundo Alcolumbre, “o plenário sabe a direção em que deve caminhar”. Nós, cidadãos médios, temos nossas sérias dúvidas.

Falamos de parlamentarismo (uma vez rejeitado em referendo pelo povo brasileiro) e assistimos o Parlamento paulatinamente a puxar o processo decisório para o plenário da Câmara e do Senado. Se alguma dúvida persiste, podemos considerar partes do discurso do novo presidente do senado: “Buscar o crescimento econômico, emprego, educação de qualidade e segurança” (programa de governo). O Poder Legislativo na busca da “construção de um futuro mais próspero e resolver os problemas do presente”.

O novo presidente do Congresso ressaltou “o tamanho da responsabilidade delegada”, o que na nossa cabeça funcionou como uma declaração de posse de um novo – ou alternativo - poder executivo.

Alcolumbre, que vai consolidando a fama de conciliador eficiente, nos deu alguma esperança. “O Brasil clama por pacificação”, afirmou enfaticamente. Infelizmente, não é o que testemunhamos nas lideranças nacionais. Ele nos pareceu ir ao cerne das nossas aspirações e prometeu “facilitar a vida do cidadão permitindo mais sonhos [ao cidadão], o que nos remeteu à declaração do bispo católico aposentado segundo a qual a vida acaba quando acabam os sonhos e a Raul Seixas cantando que sonho que se sonha junto é realidade. O filho do mecânico Samuel e de dona Júlia assumiu o compromisso de “trabalhar pelo desenvolvimento desse país”.

E a grande esperança dos que acreditam no liberalismo econômico responsável pelo desenvolvimento – sem o qual não existe socialismo: “[Trabalharemos para] assegurar o direito de prosperar e ser feliz de cada cidadão”, fechou com chave de ouro o filho de Samuel e dona Júlia e pai de Davi e Mateus. 

Francisco Nery Júnior