Ainda sobre turismo

                  Pontos fulcrais

 Francisco Nery Júnior 

O Papa Francisco acaba de falecer deixando-nos ainda mais tristes. Técnicos do governo preveem uma debacle na Administração Federal dentro de dois anos se nada for feito e os jornais nos dão conta de um desvio bilionário (R$6.3 bilhões de reais) no INSS.

Melhor ficarmos em Paulo Afonso e tratarmos de turismo que é uma indústria sem chaminé. Indústria significa produção de bens que geram divisas fundamentais para o desenvolvimento. A nossa região, vale lembrar, tem todas as características para atividades turísticas que atraem capitais sem os quais ficaremos eternamente a patinar no subdesenvolvimento.

Carece sair da periferia, pensar alto, e partir para o fulcro, o cerne ou o miolo da questão. Os turistas partem do litoral do Nordeste e param em Piranhas. Depois da Usina de Xingó e da formação do lago apertado nas entranhas do São Francisco, os piranhenses têm tudo que nós tínhamos a oferecer aos turistas até bem pouco tempo. Carece meditarmos um pouco sobre como os atrair, cooptando-os a subir um pouco mais até nós.

Então o Trem do Imperador, ideia ressuscitada pelo governador de Alagoas que bem poderia ter contagiado os governadores da Bahia e de Pernambuco. Algum turista ávido de prazer e emoção deixaria passar a oportunidade de sair de Piranhas e chegar a Jatobá em Pernambuco dentro de um trem histórico a soltar bafos de fumaça e apitos ululantes cortando a trilha aberta no meio da caatinga pródiga de cactos e mandacarus que abriga os mais variados animais da fauna nordestina?

Uma parada em Paulo Afonso e o esplendor dos lagos artificiais das usinas da região que clamam por atividades náuticas que poderiam ser financiadas com empréstimos de fomento do Banco do Nordeste fundado exatamente para este mister com o dinheiro do contribuinte. Tais atividades alimentariam o meio circulante e gerariam um grande número de empregos.

Como ocorre em todo o mundo, importante criarmos os nossos mitos e louvarmos os nossos heróis. Não há nada de estapafúrdio no que acabamos de escrever. Apenas chamamos a atenção para o que temos testemunhado dar certo em termos de turismo em alguns países que visitamos na América do Norte, na Europa e na África.

A melhor parte do cânion do São Francisco fica logo abaixo da Usina PA-IV da Chesf, um espetáculo imperdível para o visitante, e o Raso da Catarina é uma reserva e um relevo inestimável digno de ser apresentado.

Temos ainda a saga do cangaço que certamente interessa aos que prezam e estudam a formação do povo brasileiro – um fato sociológico indispensável para os pesquisadores. Como um, me lembra a emoção de estar entrando na área do cangaço na minha primeira viagem de Salvador para Paulo Afonso. Na cidade, a surpresa e a curiosidade de encontrar, nas dobras e nas esquinas, vários parentes e descendentes dos cangaceiros de Lampião – uma “pancada” de emoção difícil de esquecer.

Vale considerar as peculiaridades locais como as rendeiras, os produtores de trabalhos artesanais e as famosas confeccionadoras de redes de Malhada Grande, símbolo inconfundível do nordestino.

O retorno dos voos para as capitais do Nordeste e para São Paulo é de suma importância para uma região eminentemente vocacionada para o turismo. Já temos um aeroporto de qualidade. A nossa localização geográfica nos foi pródiga o que nos permite nos considerarmos um eixo aglutinador de equipamentos e atividades regionais, um “hub” ou ponto de partida. Dentro dessa lógica, o Governo Federal recentemente anunciou a construção de um grande hospital regional universitário em Paulo Afonso.

Fundamental manter o que tem dado certo como a Copa Vela e o evento Moto Energia, bem como importa estabelecer contato com quem já lidou com e tem formação na atividade de turismo. Não carece reinventar a roda.

O que acabamos de discorrer é o que nos parece o caminho mais curto para o nosso desenvolvimento, casado com a produção de peixes em cativeiro, dentro de um contexto nacional, que poderá nos proporcionar conforto, uma vida digna para cada habitante da cidade e mesmo a felicidade, termo relaxado e esquecido nos últimos tempos.

Francisco Nery Júnior

P.S. “Pancada”, cangaceiro tio de Zé de Abel, presidente da Câmara Municipal, segundo os jornais.